Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba,
Julia Affonso e Fausto Macedo
O lobista Julio Camargo, um dos delatores da
Operação Lava Jato, declarou à Justiça Federal que o suposto operador do PMDB
no esquema de corrupção da Petrobrás, Fernando Falcão Soares, o Fernando
Baiano, lhe disse que estava sendo pressionado pelo deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), presidente da Câmara, para pagamento de propina. Os valores da
propina teriam saído de compras de navios-sonda. Segundo relato de Julio
Camargo, o peemedebista exigia US$ 5 milhões.
"Fui bastante apreensivo (ao encontro do
parlamentar no Leblon, Rio). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma
pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo
que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o
Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares", afirmou
Camargo. "E isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de
campanha, se não me engano uma campanha municipal e que ele tinha uma série de
compromissos e que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que
ele não tinha mais condição de aguardar."
Eduardo Cunha é alvo de investigação da
Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Um inquérito foi aberto para
investigar o suposto envolvimento do deputado na Lava Jato. O delator Julio
Camargo depôs em uma das ações penais em curso na 1ª instância da Justiça
Federal no Paraná. Ele foi arrolado pelo Ministério Público Federal como
testemunha de acusação em processo contra o operador do PMDB Fernando Baiano,
ligado a Cunha."Julio, realmente nós estamos com um problema, porque eu
estou sendo pressionado violentamente, inclusive, pelo deputado Eduardo
Cunha", disse Julio Camargo, atribuindo a frase a Fernando
Baiano. Ainda segundo o lobista, Fernando Baiano disse a ele. "Isso aí vai
chegar numa situação muita embaraçosa para mim, mas para você, com certeza vai
ser muito mais embaraçosa". Julio Camargo depôs nesta quinta-feira,
16, em Curitiba, na Justiça Federal em uma das ações da Lava Jato. Ele disse
que responde a Fernando Baiano. "Eu falei, bom, eu estaria à disposição
para conversar com o deputado Eduardo Cunha explicar o que está acontecendo.
Ele falou: Julio, ele não quer conversar com você. Ele quer receber".
O lobista afirmou que se reuniu pessoalmente com o
então ministro Edison Lobão (Minas e Energia) na Base Aérea Santos Dumont, no
Rio. Julio Camargo diz que exibiu a Lobão cópia de um requerimento de
informações da Câmara, subscrito por uma deputada aliada de Eduardo Cunha - o
documento pedia informações sobre contratos da Mitsui, da qual Julio Camargo
era representante, com a Petrobrás. 'O sr. citou que o parlamentar era uma
pessoa agressiva', indagaram a Julio Camargo. "Agressivo não no tipo
físico. Diria mais sob o ponto de vista verbal, uma pessoa que tenta lhe
constranger, lhe colocar a corda no pescoço, no sentido de possuir as
ideias". Outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já havia
afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos
"destinatários finais" de em contratos de navios-sonda da Petrobrás
investigados pela Lava Jato.
Em sua versão, em maio de 2015, o doleiro declarou
que Eduardo Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para
pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. Ele
disse que foi procurado pelo lobista Julio Camargo após estes
requerimentos."Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório,
onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares,
através do deputado Eduardo Cunha, havia pedido alguns requerimentos de
informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio
Camargo, através de outros deputados", relatou.
COM A PALAVRA, O DEPUTADO EDUARDO CUNHA
NOTA À IMPRENSA
Com relação à suposta nova versão atribuída ao
delator Júlio Camargo, tenho a esclarecer o que se segue:
1- O delator já fez vários depoimentos, onde não
havia confirmado qualquer fato referente a mim, sendo certo ao menos quatro
depoimentos.
2- Após ameaças publicadas em órgãos da imprensa,
atribuídas ao Procurados Geral da República, de anular a sua delação caso não
mudasse a versão sobre mim, meus advogados protocolaram petição no STF
alertando sobre isso.
3- Desminto com veemência as mentiras do delator e
o desafio a prová-las.
4- É muito estranho, às vésperas da eleição do
Procurador Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede
nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo
Procurador Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir.
Deputado Eduardo Cunha
Presidente da Câmara dos Deputados
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