27/08/2015 às 06h42
O
plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira (26) a recondução do
atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para mais dois anos à
frente da Procuradoria Geral. Janot recebeu 59 votos favoráveis e 12
contrários. Um senador se absteve da votação. Com a aprovação, resta
apenas a publicação da nomeação do procurador no Diário Oficial da União
para que ele tome posse.
Candidato mais votado na lista tríplice
do Ministério Público Federal, Janot foi indicado pela presidente Dilma
Rousseff para permanecer por mais dois anos à frente da PGR. Para que o
procurador fosse reconduzido, ele precisava de, no mínimo, 41 votos
favoráveis, dos 81 possíveis.
Antes de ter o nome aprovado pelo
plenário, Janot passou por sabatina de mais de dez horas na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Na comissão, ele recebeu 26
votosfavoráveis e apenas um contrário.
No comando do Ministério
Público Federal, Janot é responsável por conduzir as investigações sobre
políticos na Operação Lava Jato. Na última semana, ele apresentou ao
Supremo Tribunal Federal de políticos supostamente envolvidos no esquema
de corrupção na Petrobras. As primeiras denúncias foram contra o
presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e contra o
senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) – este, inclusive, participou
da sabatina de Janot na CCJ.
Após a sabatina, Janot não deu
declarações à imprensa. Questionado sobre se estava cansado, o
procurador-geral apenas olhou para os jornalistas e continuou andando.
Ele também evitou falar sobre relatos de alguns senadores que disseram
ter ouvido Fernando Collor utilizar palavrões para se referir a Janot
durante a sabatina, conforme o Blog do Matheus Leitão.
Sabatina
Mais
cedo, durante a sabatina, Janot falou sobre diversos temas levantados
pelos senadores que integram a CCJ. O procurador negou “veementemente” a
acusação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que ele
teria feito um acordo com o Palácio do Planalto para poupar investigados
na Operação Lava Jato. Na sabatina, Janot classificou a acusação de
“factoide” e disse que, para fechar tal acerto, teria de “combinar com
os russos”.
Ao anunciar, no mês passado, seu rompimento com o
governo federal, Cunha acusou o Planalto de ter se articulado com o
procurador-geral da República para incriminá-lo na Operação Lava Jato.
“Ainda
que quisesse fazer um acordo desses, teria que combinar com os russos,
20 colegas e um grupo de delegados muitos preparados da Polícia
Federal”, ironizou.
“Eu nego, veementemente, a possibilidade de
qualquer acordo que possa interferir nas investigações. Senador, há mais
de 35, 36 anos, fiz opção pelo direito. Há 31 anos, fiz opção pelo
Ministério Público. A essa altura da minha vida, não deixaria os trilhos
da atuação técnica do Ministério Público para me embrenhar num processo
que não domino e não conheço, que é o caminho da política”, acrescentou
o chefe do MP.
Janot
também negou acusações feitas pelo senador Fernando Collor de Melo
(PTB-AL) contra ele. Denunciado por Janot em um dos processos da Lava
Jato por corrupção e lavagem de dinheiro, Collor questionou um suposto
aluguel feito pela PGR durante a administração de Janot, de uma mansão,
em Brasília, por R$ 67 mil mensais que não tinha o devido alvará. Collor
também o acusou de ter contratado sem licitação uma empresa de
comunicação.
Janot também foi acusado por Collor de advogar quando
já estava nos quadros do Ministério Público, de abrigar um irmão
procurado pela Interpol e de não ter enviado todas essas informações à
Comissão de Constituição e Justiça para a sabatina. O procurador-geral
rebateu as acusações e, sobre seu irmão, disse que não iria falar sobre
alguém que não pode se defender – segundo ele, seu irmão morreu há mais
de cinco anos.
Ao
fazer sua apresentação inicial na sabatina, o procurador-geral da
República afirmou que sua tentativa de ser reconduzido ao cargo por mais
dois anos não tem como objetivo a “satisfação de seu ego” ou a
“sofreguidão do poder”.
“A minha motivação para tentar a
recondução ao cargo não se presta à satisfação do ego ou à sofreguidão
do poder. Não é isso que me move. Me move a firme vontade de continuar a
servir à minha nação. Venho aqui após ter tido o reconhecimento de 799
colegas do MPF e de ter sido indicado pela presidente da República”,
declarou Janot em sua primeira manifestação na sabatina do Senado.
Sem
citar diretamente a Operação Lava Jato, o procurador-geral da República
afirmou que o país vive um momento em que “fatos graves são
investigados”.
“No campo de atuação do Ministério Público Federal,
esse momento, no qual fatos graves são investigados, é a oportunidade
para que o embate jurídico entre acusação e defesa se caracterize pela
lealdade recíproca e a consolidação de ideais éticos que são a base da
sociedade democrática”, declarou.
Lava Jato
Durante a sabatina, Janot afirmou que o esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato é “enorme”. Ele disse jamais ter visto “algo precedente”.
“A Petrobras, ela foi e é alvo de um mega
esquema de corrupção. Um enorme esquema de corrupção. Eu, com 31 anos de
Ministério Público, jamais vi algo precedente”, disse.
Janot
também rebateu nesta terça críticas de que o Ministério Público
seleciona os investigados, mas disse que às vezes pode ser essa a
impressão. Ele disse, ainda, que o MP se preocupa em, assim que
possível, abrir “todo o complexo que envolveu a delação premiada” para
não ser acusado de seletividade nas investigações.
“As pessoas e
os fatos não é o Ministério Público que os faz. Por isso que
eventualmente pode parecer seletividade”, disse. Ele explicou que os
nomes e fatos investigados pelo MP vêm das colaborações com a Justiça.
“O
Janot não fez lista nenhuma. Esses fatos e essas pessoas vieram por
colaboradores da Justiça. […] Já que a colaboração é espontânea, a gente
investiga fatos apontados por aquelas pessoas”. disse. “Não somos nós
que criamos fatos e criamos nomes”, reforçou.
Janot
disse que há um “mal entendido” sobre a colaboração premiada. “O
colaborador não é um dedo duro, não é um X9. […] O colaborador, pela
lei, tem que reconhecer a prática do crime. Ele vem, confessa a pratica
do crime e diz quais são as pessoas que estavam também envolvidas na
prática daqueles delitos”, disse.
O procurador defendeu as
delações premiadas, que, segundo ele, aceleram as investigações.
“Investigação é tentativa e erro”, disse.
Janot reforçou que a lei
estabelece que o colaborador estará cometendo um crime se mentir sobre a
participação de um terceiro no crime. Ele disse, ainda, que o “mero
depoimento” do delator não configura uma prova.
“O que você tem
que fazer é comprovar a circunstância e a vinculação da pessoa. Cabe ao
Ministério Público fazer essas comprovações, aí sim ganha força o
depoimento do colaborador”, esclareceu.
Acordo de leniência
Janot
reafirmou o entendimento de que os acordos de leniência, que podem ser
firmados pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), devem ter a concordância do
Ministério Público para ter efeito na esfera penal (assista ao vídeo
acima).
“Esses acordos de leniência, a não ser que o Ministério
Público com ele concorde, eles não têm reflexo na esfera penal”, disse.
“Ele tem reflexo no âmbito da CGU e do Cade, mas não no âmbito penal”,
completou.
G1
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