Um novo relatório do órgão de inteligência financeira do Ministério da
Fazenda afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os
ex-ministros petistas Antonio Palocci e Erenice Guerra movimentaram
recursos milionários após deixar o governo, de forma incompatível com
suas atividades no setor privado, de acordo com reportagem publicada
pela revista "Época" na edição que chega às bancas neste sábado (31).
Segundo o relatório obtido pela revista, produzido pelo Coaf (Conselho
de Controle de Atividades Financeiras), as empresas de Lula, Palocci e
Erenice movimentaram R$ 294,6 milhões em suas contas desde 2008. O valor
representa a soma de entradas e saídas, ou seja, o que faturaram com
seus clientes, mais o que repassaram a outras contas para realizar
despesas, investimentos e aplicações financeiras, por exemplo.
De acordo com o Coaf, a empresa criada por Lula em 2011 para contratar
suas palestras faturou R$ 27 milhões até maio deste ano e transferiu R$
25,3 milhões para outras contas, movimentando ao todo R$ 52,3 milhões. O
faturamento da empresa foi revelado em agosto por reportagem da revista
"Veja" baseada em outro relatório produzido pelo Coaf.
Edson Silva - 26.out.14/Folhapress | ||
O ex-ministro Antonio Palocci em Ribeirão Preto (SP) |
Palocci foi ministro da Fazenda de Lula e abriu sua empresa de
consultoria, a Projeto, em 2006, ano em que deixou o governo e se elegeu
deputado federal. Ele movimentou R$ 216,2 milhões até abril deste ano,
segundo o relatório do Coaf divulgado pela revista "Época". Desde junho
de 2011, quando deixou o posto de ministro da Casa Civil do governo da
presidente Dilma Rousseff, a consultoria de Palocci faturou R$ 52,8
milhões, segundo o Coaf.
Palocci deixou o governo Dilma após a Folha ter revelado a existência de seus negócios como consultor e a multiplicação de seu patrimônio pessoal.
Ele sempre defendeu suas atividades como legítimas e se recusou a
revelar a identidade de seus clientes. Entre 2007 e 2010, quando Palocci
era deputado, a Projeto faturou R$ 35 milhões, de acordo com informações repassadas pela Receita Federal ao Ministério Público Federal.
Segundo a reportagem da revista "Época", o relatório do Coaf mostra que
Lula repassou recursos a seus filhos e investiu no ano passado R$ 6,2
milhões num plano de previdência privada.
Em nota, o Instituto Lula informou que os valores se referem a 70
palestras ministradas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
contratadas por 41 empresas, "todas realizadas, contabilizadas e com os
devidos impostos pagos". A nota enfatiza que "não há nada de ilegal na
movimentação financeira do ex-presidente" e que "os recursos são
oriundos de atividades profissionais, legais e legítimas de quem não
ocupa nenhum cargo público".
No caso de Palocci, o relatório diz que sua consultoria faturou R$ 4,7 milhões com a Caoa, montadora e revendedora de veículos investigada na Operação Zelotes
suspeita de envolvimento com suposto esquema de compra de medidas
provisórias. Investigadores investigam suspeitas de que houve pagamento
de propina para garantir incentivos fiscais para as montadoras na MP
471, aprovada pelo Congresso no fim de 2009.
A relação de Palocci com a Caoa já era conhecida. Em maio, a empresa afirmou à Folha que o ex-ministro prestou consultoria em dois períodos,
de 2008 a 2010 e de 2012 a 2013, "nas áreas de planejamento
estratégico, econômico, financeiro e de relações internacionais". A
empresa disse que "não comenta detalhes sobre contratos".
A assessoria de imprensa do ex-ministro Antonio Palocci afirmou que seus
ganhos e os de sua empresa "estão clara e transparentemente registrados
e sempre informados às autoridades competentes".
Em nota, chama de "caluniosas e mentirosas as ilações" e que buscam
relacionar os serviços da Projeto Consultoria à aprovação de benefícios
ao setor automotivo. Afirma ainda que Palocci está afastado da vida
pública há mais de quatro anos e que retomou as atividades empresariais
nesse período.
ERENICE
Erenice Guerra foi secretária-executiva da Casa Civil quando Dilma era a
ministra, no governo Lula, e sucedeu a chefe quando ela deixou o posto
para concorrer à Presidência nas eleições de 2010. Erenice deixou o cargo após acusações de tráfico de influência envolvendo sua família no âmbito do ministério.
Segundo a revista "Época", o escritório de advocacia da ex-ministra
recebeu R$ 12 milhões entre agosto de 2011 e abril deste ano e
transferiu R$ 11,3 milhões a outras contas, movimentando um total de R$
23,3 milhões no período. Procurada pela Folha, a ex-ministra não foi localizada.
PIMENTEL
Ainda de acordo com a revista, o governador de Minas Gerais, Fernando
Pimentel (PT), chamou atenção do Coaf ao fazer um saque de R$ 150 mil
dois meses após vencer as eleições. Na análise das movimentações, diz a
revista, os investigadores apontaram um "comportamento atípico" do
governador, já que ele teria apresentado informações incorretas sobre a
operação ou evitado esclarecê-la.
A Polícia Federal investiga se o comitê do PT em Minas recebeu recursos
ilícitos de contratos assinados entre órgãos públicos e empresas de
Benedito Rodrigues de Oliveira, amigo de Pimentel, preso com R$ 113 mil
em dinheiro vivo dentro de um avião. A Operação Acrônimo
averigua supostos desvios de recursos para a campanha de Pimentel ao
governo de Minas, em 2014, e suspeitas de tráfico de influência.
Em nota, os advogados de Pimentel disseram que desconhecem a origem e o
conteúdo dos documentos e que o governador "apresentará todos os
esclarecimentos assim que as informações mencionadas na mensagem forem
disponibilizadas nos autos do inquérito".
"O governador reafirma jamais ter participado de qualquer ato ilícito,
colocando-se, como sempre o fez, à disposição para todo e qualquer
esclarecimento, sempre que apresentados os documentos nos quais se
fundam as supostas acusações", continua a nota.
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