O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta
segunda-feira (17) que pensou que fosse mentira e não acreditou quando
recebeu as primeiras denúncias da JBS que envolviam o presidente Michel Temer e um esquema de corrupção no governo.
"Essas pessoas procuraram agentes do Ministério Público para oferecer a
possibilidade de um acordo penal. E envolviam altíssimas autoridades da
República. A primeira reação nossa foi dizer 'isso é mentira, não
acredito que isso esteja acontecendo, é inacreditável que a prática
continue de maneira aberta' ". Janot participa de evento promovido pelo
Brazil Institute, do Wilson Center, em Washington, e vai se encontrar
com autoridades norte-americanas.
O procurador-geral disse também que seu trabalho está feito no que diz
respeito à denúncia por corrupção passiva apresentada contra Temer com
base na delação premiada do empresário Joesley Batista,
da JBS. "Não vou insistir nessa denúncia, porque não tenho como
insistir tecnicamente". Caso a Câmara rejeite, o processo contra Temer
seguirá apenas quando ele deixar o cargo de presidente.
Janot negou ter pressa para apresentar uma nova denúncia contra o presidente e afirmou que aceitaria uma possível rejeição do texto
pela Câmara "com a maior naturalidade". E "se alguma investigação
estiver madura até 15 de setembro [quando encerra o mandato e Raquel Dodge assume], eu ofereço a denúncia", disse.
IMUNIDADE
Sem mencionar o nome de Joesley ou da JBS, Janot apresentou a
colaboração que livrou os donos da empresa da cadeia como "a grande
polêmica que se tem hoje no Brasil", e garantiu que, mesmo depois de
toda a polêmica, faria tudo de novo "sem o menor drama de consciência".
"Ninguém se sente feliz concedendo imunidade a criminoso", disse o
procurador-geral, destacando que a imunidade foi concedida "a pessoas
ricas que moram aqui, em Nova York". Janot disse que os delatores
apresentaram "takezinhos de algumas gravações" com uma diferença em
relação às outras colaborações: denunciavam um crime em curso.
A gravação apresentada por Joesley Batista sugeria que o presidente
Michel Temer estava agindo para atrapalhar as investigações da Operação
Lava jato. A Câmara dos Deputados decidirá se o processo segue enquanto
Temer for presidente, após a Comissão de Constituição de Justiça da Casa rejeitar o relatório favorável à denúncia apresentada pela PGR.
"Em toda a negociação, esses sujeitos diziam à gente que não abriam mão
de imunidade", disse Janot ao justificar sua decisão. O procurador-geral
ressaltou que os colaboradores denunciavam um presidente da República,
um senador que tinha recebido 50 milhões de votos como candidato à
Presidência [o tucano Aécio Neves] e "um colega meu recebendo dinheiro,
infiltrado [o procurador eleitoral Ângelo Goulart Villela ]."
Além disso, os colaboradores concordaram em participar de ações
controladas, ainda sem a garantia do acordo, para conseguir mais provas.
"Eles se grampearam com áudio e vídeo e foram efetuar pagamentos de
propina a essas pessoas que cometeram crime."
"A escolha de Sofia que eu tive de fazer foi: eu, que tenho o monopólio
da investigação e sou o titular exclusivo da ação penal, aceito
prosseguir no acordo ou vou ter de fechar os olhos para crimes que
estavam sendo praticados. Aí, eu sopesei os dois interesses e a
concessão da imunidade", disse o procurador-geral.
Janot foi o oitavo convidado de uma série de palestras do Brazil
Institute sobre as investigações que agitam a política brasileira desde
2014. Entre os palestrantes já estiveram o juiz Sérgio Moro e o
ex-relator da operação no Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, morto em acidente de avião no ano passado. Na quarta-feira, é a vez do ministro da Justiça, Torquato Jardim.
Fonte: RODOLFO BORGES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM WASHINGTON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM WASHINGTON
0 comentar:
Postar um comentário
obrigado e comente sempre