O presidente Jair Bolsonaro (PSL) gosta de redes sociais. No início de março, anunciou que passaria a fazer transmissões ao vivo no Facebook para se comunicar com a população. As lives ocorrem toda quinta-feira, às 19h, na companhia de ministros e assessores. Em março, nem sempre o conteúdo que teve mais de 5 milhões de visualizações refletiu dados precisos. Veja:
“Grande parte da mídia achava que ele [Cesare Battisti] era um pobre coitado”
Jair Bolsonaro (PSL), presidente do Brasil, no Facebook em 28.mar.2019
EXAGERADO
Desde 2007, quando o italiano Cesare Battisti foi preso no Brasil, ao menos quatro meios de comunicação – entre eles os três maiores jornais do país – defenderam, em editoriais, que ele fosse extraditado para a Itália. No editorial de 29 de janeiro de 2009, a Folha classificou como “infeliz” a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder asilo a Battisti. Disse que ela expunha “o Brasil, voluntária e gratuitamente, ao risco de incidente diplomático”.
No mesmo ano, o O Estado de S.Paulo criticou o então ministro da Justiça, Tarso Genro, dizendo que “despropósitos” eram “a marca de sua gestão” e que o ex-ministro demonstrava “desconhecer o funcionamento do Estado de Direito” ao conceder asilo ao italiano condenado por assassinatos. O Globo, por sua vez, publicou que “ao proteger um assassino transmutado em refugiado político, (…) [Genro] pôs o governo brasileiro no meio de um imbróglio com o governo italiano.”
Por fim, na revista CartaCapital, o diretor de redação, Mino Carta, escreveu que a mídia estava certa ao criticar a extradição negada. Para ele, o Brasil exibia “ao mundo ignorância, falta de sensibilidade diplomática e irresponsabilidade política, ao afrontar um estado democrático amigo”.
Em 2011, quando Lula decidiu não entregar Battisti às autoridades, o Estadão publicou novamente um editorial, classificando o italiano como um “delinquente comum” e a decisão como uma “desastrada iniciativa”. Battisti teve seu asilo revogado em 2017, foi preso na Bolívia em 2019 e, na última segunda (25), confessou envolvimento nos quatro assassinatos pelos quais foi condenado.
Procurada, a assessoria de Bolsonaro não retornou.
“O cartão [de crédito] corporativo da Presidência tinha gasto mais de 16% em janeiro de 2019 do que em janeiro de 2018. Esqueceram que nós estávamos vivendo o período da posse”
General Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, no Facebook em 7.mar.2019
INSUSTENTÁVEL
Não há dados no Portal da Transparência que comprovem que o aumento de gastos no cartão corporativo tenha ocorrido por conta da cerimônia de posse de Bolsonaro. Dos R$ 525,4 mil gastos pela Secretaria de Administração da Presidência em janeiro de 2016 (valor que supera em 12% o de janeiro de 2018, em totais corrigidos pelo IPCA), R$ 510,1 mil (ou 97,1% do total) estão sob sigilo. Ou seja, não é possível saber com o que foram gastos – nem quem recebeu os valores.
Além disso, os gastos continuaram em alta em fevereiro, quando já não havia cerimônia de posse presidencial. No mês passado, a secretaria desembolsou R$ 620 mil, um crescimento de 18,6% em relação à janeiro, e de 13,3% na comparação com fevereiro do ano passado. Desse valor, R$ 616,9 mil (99,5%) estão sob sigilo. Vale ressaltar ainda que, em janeiro de 2015, quando também houve cerimônia de posse presidencial, os gastos com cartão corporativo caíram com relação ao mesmo mês de 2014.
Procurada, a assessoria do general Heleno não retornou.
“Como um todo, global, a despesa com cartões corporativos baixou 28%”
Jair Bolsonaro (PSL), presidente do Brasil, no Facebook em 7.mar.2019
VERDADEIRO
Segundo o Portal da Transparência, em janeiro e fevereiro de 2019, foram gastos R$ 5,1 milhões com os cartões corporativos, considerando todos os órgãos do governo. Nos mesmos meses de 2018, foram R$ 7,1 milhões (corrigidos pelo IPCA.). Isso representa uma queda de 28,4%.
“Vale lembrar que, no ano passado [2018], o mesmo instituto [o Ibope] falou que eu perderia para todo mundo no segundo turno”
Jair Bolsonaro (PSL), presidente do Brasil, no Facebook em 21.mar.2019
EXAGERADO
Nem todas as pesquisas do Ibope antes do primeiro turno mostraram Bolsonaro perdendo a eleição presidencial de 2018. No segundo turno, inclusive, todos os levantamentos indicavam que o atual presidente venceria Fernando Haddad (PT). Nas oito pesquisas realizadas antes de 7 de outubro, o Ibope simulou 32 cenários de 2º turno envolvendo Bolsonaro. Vinte deles mostravam empate ou empate técnico. Nove apontavam derrotas de Bolsonaro, e três, vitórias dele – todas contra Marina.
No segundo turno, foram três levantamentos e a pesquisa de boca de urna. No primeiro, feito em 15 de outubro, Bolsonaro aparecia com 59% dos votos válidos. No dia 23, 57% e no dia 27, 54% – vencendo, portanto, em todos os cenários. Na boca de urna, o Ibope indicou que Bolsonaro teria 56% dos votos válidos. Ele foi eleito com 55%. Vale pontuar que é metodologicamente incorreto comparar uma pesquisa realizada antes da eleição com o resultado final, visto que a intenção de voto tende a variar ao longo do tempo.
Procurada, a assessoria de Bolsonaro não respondeu.
“[Com a reforma da Previdência,] O parlamentar vai se aposentar com o teto do INSS, ao todo R$ 5,8 mil”
Jair Bolsonaro (PSL), presidente do Brasil, no Facebook em 7.mar.2019
VERDADEIRO, MAS
Se aprovada a proposta de reforma da Previdência, os políticos não terão mais regime especial de aposentadoria e passarão a integrar o Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Nele, precisam cumprir as regras de idade mínima (65 anos para homens e 62 para mulheres) e tempo de contribuição (35 anos). Além disso, terão o benefício limitado ao teto do INSS (hoje, R$ 5.839,45).
Atualmente, a aposentadoria de congressistas segue regras especiais: a idade mínima é menor, e o benefício, proporcional ao tempo de mandato, não-limitado pelo teto do INSS. Mas vale dizer que os congressistas que já estão no regime especial – reeleitos em 2018 ou eleitos antes disso – ainda podem optar por seguir assim. Ou seja, a reforma não valeria para todos os congressistas. Só para os que estão em primeiro mandato e os que se elegerem no futuro.
“Tivemos missão de paz naquele país [Moçambique] na década de 90”
General Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência, no Facebook em 21.mar.2019
VERDADEIRO
O Brasil, de fato, participou de uma missão de paz em Moçambique em 1994. A Onumoz foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas para garantir o cumprimento do acordo de paz assinado no país africano em 1992. Segundo o Exército, “o Brasil contribuiu para a missão com um total de 26 observadores militares, 67 observadores policiais, uma unidade médica e uma companhia de infantaria, composta de 170 militares”.
“[A mudança do brasão no passaporte brasileiro] Está dentro do programa [de metas] de 100 dias (…) de governo”
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, no Facebook em 14.mar.2019
VERDADEIRO
Entre as 35 metas apresentadas pelo governo para os primeiros 100 dias de governo, está a mudança da identidade visual do passaporte brasileiro. Atualmente, o documento leva o brasão do Mercosul. O governo pretende trocá-lo pelo brasão da República.
Editado por: Natália Leal e Cristina Tardáguila
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