A
cúpula do Congresso Nacional já vê uma CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) sobre o caso do
vazamento de conversasatribuídas a Sergio Moro e a
Deltan Dallagnol como muito provável. O presidente Jair Bolsonaro
(PSL), por sua vez, está tentando se afastar ao máximo do caso envolvendo o
então juiz e hoje ministro da Justiça de seu governo.
Este
é o resumo inicial das reações que tomaram Brasília desde a noite de domingo
(9), quando o site The Intercept Brasil divulgou trechos
aparentemente hackeados do celular de um ou mais envolvidos. Além disso, o
site promete novos capítulos do material.
Em reunião nesta manhã, os
presidentes da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP) e do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli,
discutiram o cenário, que obviamente pode mudar ao longo das próximas horas e
dias.
A avaliação interna do Congresso, levada a Maia e a Alcolumbre já na noite de
domingo por líderes partidários, é o clássico clichê das CPIs: todos sabem como
começam, ninguém como acabam. Isso dito, a preocupação com a manutenção de uma
agenda mínima de governabilidade, a começar pela tramitação da reforma da
Previdência, permeou as conversas.
Se é impossível saber a extensão
do dano do caso a esta altura, os sinais são bastante ruins parar Moro.
Bolsonaro deixou para o filho Eduardo, deputado pelo PSL-SP, a missão de
fazer uma defesa da Lava Jato que o hoje ministro representava como juiz
símbolo.
O presidente será obrigado a
falar mais cedo ou mais tarde sobre a situação, mas a aposta pela manhã de
segunda (10) no Planalto era a de que deixaria o voto de confiança para ser
dado pelo seu porta-voz, general Otávio do Rêgo Barros. Os militares com
assento no governo, usualmente entusiastas de Moro, estão prudentemente
silenciosos sobre o episódio até aqui.
Segundo a Folha ouviu
do círculo do presidente, a ordem é se afastar de atos pregressos de Moro.
Assim, o ministro tende a ser jogado às feras no Congresso, onde tem
poucos amigos para sua agenda moralizante e antiestablishment.
A defesa pontual que
parlamentares eleitos na mesma onda conservadora de Bolsonaro tenderá a ser
isso, pontual, em especial com a cúpula do Congresso lavando as mãos. Nunca é
demais lembrar que Moro e Maia já
protagonizaram altercações acerca do andamento do pacote
anticrime do ministro neste ano. Fizeram as pazes, mas estão longe de ter um
relacionamento próximo.
Análises preliminares da reação
de redes sociais, que não são pesquisas de opinião mas servem de termômetro
para políticos, indicam que Moro ainda está com sua imagem relativamente
intocada fora dos grupos à esquerda. As hashtags favoráveis à Lava Jato e
ao ministro são mais replicadas do que as contrárias, ainda que nesta conta
seja indistinguível o universo de robôs virtuais e internautas reais.
Isso certamente terá efeito na
ferocidade com que Moro será atacado no Congresso. Partidos de centro e
centro-direita não estão à frente dos movimentos para a CPI neste momento, por temer a
associação negativa com uma agenda pró-corrupção.
Assim a iniciativa foi
deixada para a esquerda de sempre —PSOL e, principalmente, o PT
que viu no caso uma oportunidade de reavivar seu slogan pela liberdade do
ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva , por improvável
que isso seja juridicamente na esteira das mensagens. Como será
o embarque na canoa é algo ainda a ver.
Por fim, resta o Supremo,
representado por Toffoli nas discussões. A avaliação é de que o caso dará
força à ala dita legalista da corte, que sempre torceu o nariz para Moro e seus
métodos. Com isso, a usual preponderância de votos em favor da operação no
plenário pode ser afetada, caso ministros usualmente mais neutros tendam a
unir-se aos contrários ao lava-jatismo.
Além disso, mais óbvio, a resistência a
uma eventual indicação de Moroà corte, conforme já foi prometido por
Bolsonaro, deverá crescer.
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