Concentração de renda cresce no país há mais de quatro anos, fruto
do aumento do desemprego.
Gabriel Martins
16/08/2019 - 04:30 / Atualizado em 16/08/2019 -
09:06
RIO-O Brasil vive o
ciclo mais longo de aumento da desigualdade de
sua história. Estudo do economista Marcelo Neri, diretor do FGV
Social, mostra que a concentração de renda cresce no país
há 17 trimestres, pouco mais de quatro anos.
A piora na
desigualdade, segundo Neri, é resultado do aumento dodesemprego no
país, que ainda aflige 12
milhões de pessoas :
— O principal fator que influencia o
aumento da desigualdade é o desemprego, que, embora apresente sinais de alguma
recuperação, ainda é grande no país.
O economista pondera que, quando o
desemprego aumenta, o mercado de trabalho tende a diferenciar ainda mais os
trabalhadores de acordo com o grau de instrução. Os mais capacitados têm mais
chance do que os de baixa escolaridade.
A desigualdade é medida pelo índice de
Gini, que mostra a concentração de renda e varia de zero a 1. Quanto mais
próximo de 1, mais desigual é a distribuição de renda. No Brasil, o indicador
segue tendência de alta desde o quarto trimestre de 2014, quando estava em
0,6003, até o segundo trimestre deste ano, quando alcançou 0,6291.
A concentração de renda avançou no
período que abrange os governos de Dilma Rousseff, Michel
Temer e o primeiro semestre da gestão de Jair Bolsonaro.
Mercado de trabalho: Conheça as dez
carreiras com maior rendimento no Brasil; sete são ligadas ao setor público
Para João Saboia, professor do
Instituto de Economia da UFRJ, a precariedade do mercado de trabalho é uma das
causas que explicam o aumento da desigualdade no país.
— O que esses números mostram é a
disparidade no mercado de trabalho. O índice de Gini abarca todas as fontes de
renda, sejam elas formais ou informais. Sendo assim, inclui trabalhadores que
têm renda irregular e os registrados, com salário fixo. O mercado ainda não
consegue absorver o contingente de trabalhadores disponíveis. E, quando
absorve, é de uma maneira muito desigual — explicou Saboia.
Mão de obra: Desemprego
avança entre os mais qualificados
Impacto
maior para jovens
De acordo com o estudo, nem mesmo em
1989, pico histórico de desigualdade brasileira, alimentada pela inflação
galopante, houve um período de concentração de renda por tantos trimestres
consecutivos.
Outro indicador do avanço da
desigualdade no país é a análise do comportamento dos rendimentos do trabalho
de acordo com a faixa de renda. No período de 2014 a 2019, a renda da metade
mais pobre da população caiu, como antecipou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois.
A perda foi de 17,1%. No mesmo período, a renda da parcela que compreende o 1%
mais rico avançou 10,11%.
O levantamento tem como base a renda do
trabalho per capita familiar, ou seja, considera todos os
trabalhos de todos os integrantes da família, divididos pelo número de pessoas
do domicílio. O cálculo desconta a inflação do período.
Os mais pobres não foram os únicos que
viram seu rendimento encolher no período. Os mais jovens, com idade de 20 a 24
anos, registraram queda de 17,7% no período. As pessoas sem instrução tiveram
recuo de 15%.
— Uma das explicações para a queda na
renda dos jovens é que eles não conseguem inserção no mercado de trabalho. Com
a crise e as demissões de chefes de família, jovens passaram a procurar ainda
mais emprego. Os resultados mostram que quem mais perdeu nesta crise foram as
pessoas com pouca experiência ou com pouca instrução — destaca Neri.
Segundo o estudo, o desemprego foi o
principal responsável pela queda no poder de compra das famílias.
“Desemprego é sinal de desajuste do
mercado de trabalho e de frustração. A maioria dos ocupados passa
a temer cair no desemprego, e, por precaução, reprime sua demanda por
bens e serviços”, diz o o estudo.
23,3
milhões na pobreza
Além da disparidade crescente de renda
entre os trabalhadores, o número de pobres no Brasil aumentou. De acordo com o
levantamento, entre 2015 e 2017, a população pobre brasileira aumentou de 8,3%
para 11,1% do total. Assim, este contingente representa uma parcela de 23,3
milhões de pobres no Brasil, pessoas que vivem com menos de R$ 233 por mês.
Em dois anos, o Brasil passou a ter
mais 6,2 milhões de pobres. Uma das causas para esta situação de aumento da
pobreza, ressalta o diretor do FGV Social, é a falta de expansão de programas
sociais:
— Ao passo que o desemprego aumentou e
mais pessoas perderam suas fontes de renda, as políticas públicas não
conseguiram incorporar esse novo contingente de desassistidos. Um exemplo é o
Bolsa Família. Foram feitas medidas para evitar fraudes e melhorar o
cadastramento, mas a expansão do programa não foi suficiente para impedir o
aumento significativo na pobreza do Brasil.
Fonte: https://oglobo.globo.com
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