Gugu Liberato, 60, morreu em um hospital em Orlando, no estado americano da Flórida, onde estava internado desde o dia anterior. O apresentador, que morava em um condomínio nos arredores da cidade, caiu de uma altura de quatro metros, quando fazia um reparo no ar-condicionado instalado no sótão.
Devido à gravidade do estado, não foi indicado qualquer procedimento cirúrgico. Durante o período de observação, foi constatada a ausência de atividade cerebral, segundo a nota de falecimento, que não especifica a data exata da morte.
“Nosso Gugu sempre viveu de maneira simples e alegre, cercado por seus familiares e extremamente dedicado aos filhos. E assim foi até o final da vida, ocorrida após um acidente caseiro”, escreveu a família, em nota. Ainda não há detalhes sobre o traslado do corpo para o Brasil.
O desfecho trágico encerra uma das trajetórias mais fulgurantes da história da TV brasileira. O paulistano Antônio Augusto Moraes Liberato começou a carreira ainda muito jovem. Na adolescência, escrevia tantas cartas para Silvio Santos sugerindo ideias, que acabou sendo contratado pelo apresentador.
Aos 14 anos, já era assistente de produção de programas comandados por Silvio na Record e na extinta Tupi. Em 1981, seguiu o patrão, rumo ao recém-fundado SBT. Na nova emissora, teve suas primeiras chances em frente às câmeras, participando do humorístico “Alegria 81” ou como jurado do “Programa Raul Gil”.
Naquele mesmo ano, estreou como apresentador, fazendo entradas ao vivo ao longo dos filmes exibidos pela Sessão Premiada e distribuindo brindes aos telespectadores.
O sucesso veio no ano seguinte. A pedido de Silvio, a produtora e diretora argentina Nelly Raymond criou o programa de auditório “Viva a Noite”: um amontoado de quadros de variedades que iam da música ao ocultismo, transmitido ao vivo às terças. Gugu foi escalado para comandar a nova atração, ao lado de Ademar Dutra e do pai de santo Jair de Ogum.
Em março de 1983, o programa foi transferido para os sábados, sob a direção de Roberto “Magrão” Manzoni e com Gugu Liberato como único apresentador. Não demorou para que o “Viva a Noite” começasse a bater a Globo.
Gugu se tornou popularíssimo, muito por causa de sua disposição a encarar qualquer coisa. Ele cantava, dançava, fantasiava-se de coelho da Páscoa. Marcou época com a “Dança do Passarinho”, gravada na memória de quem viveu o começo da década de 1980: “passarinho quer cantar/ porque acaba de nascer…”.
Acabou sendo convocado pela própria Globo, que tinha um rombo em sua programação vespertina dominical desde que Silvio Santos deixou a emissora, em 1976.
Gugu assinou contrato com o canal carioca em agosto de 1987 e chegou a gravar alguns pilotos, mas não entrou no ar. Silvio não o deixou ir embora.
O dono do SBT pagou uma imensa multa rescisória e Gugu ganhou um upgrade em sua antiga emissora: salário multiplicado, a promessa de maiores valores de produção e o título semioficial de herdeiro de Silvio Santos.
A Globo então acionou um plano B: tirou da Band um apresentador ainda pouco conhecido, Fausto Silva, e o transformou em seu novo rei das tardes de domingo.
As duas décadas seguintes foram marcadas pelo embate semanal entre o “Domingão do Faustão”, da Globo, e o “Domingo Legal”, do SBT, comandado por Gugu Liberato. A mídia dava enorme destaque para os índices de audiência de cada um dos programas, que se revezavam no primeiro lugar.
Uma concorrência tão acirrada que gerou alguns episódios lamentáveis. Como o do sushi erótico (famosos comiam sushis dispostos sobre o corpo de uma modelo nua), protagonizado por Faustão, ou o embuste do PCC, por Gugu.
Ao longo da década de 1990, Gugu Liberato também acalentou o sonho de ter sua própria TV. Àquela altura, já era um empresário bem-sucedido, cuidando da carreira de diversos cantores e vendendo suco de banana para Portugal, terra natal de seus pais. Comprou estúdios na região do Alphaville, na Grande São Paulo, e produziu programas como “Escolinha do Barulho”, exibido pela Record.
Este sonho não foi adiante, assim como o de suceder a Silvio Santos. Em 2009, Gugu recebeu uma proposta da Record e, dessa vez, pôde deixar o SBT. Mas, na nova casa, o “Programa do Gugu” não alcançou o êxito esperado. Em 2013, apresentador e emissora desfizeram o contrato.
Gugu ainda voltaria à Record, em esquema de temporadas. Entre 2015 e 2017, comandou por lá “Gugu”, que combinava variedades com reportagens.
Em 2018, acabou se rendendo à onda de formatos que varre a televisão do planeta. Comandou primeiro o “Power Couple Brasil”, uma competição entre casais, e depois o concurso de calouros “Canta Comigo”, cuja segunda temporada, já gravada, ainda está no ar.
Gugu Liberato deixa a mulher, Rose Miriam, e três filhos: João Augusto, de 17 anos, e as gêmeas Marina e Sofia, de 15. Sua morte acontece em um momento de transição na maneira como consumimos TV. A era dos grandes apresentadores, da qual ele foi um dos expoentes, parece estar chegando ao fim.
FOLHA
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