Esta não foi nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez em que o presidente Jair Bolsonaro usou a expressão "e daí?" quando confrontado com assuntos que envolvem sua responsabilidade.
O presidente reagiu com o termo em pelo menos cinco oportunidades desde que foi eleito, em 2018.
A mais recente aconteceu na terça-feira, na entrada do Palácio da Alvorada, quando o presidente foi questionado sobre o recorde de mortes relacionadas ao novo coronavírus no Brasil.
O Brasil registrou 474 mortes em 24 horas, segundo dados oficiais divulgados na terça-feira pelo Ministério da Saúde.
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Com a marca, o país se tornou o nono em todo o mundo em número de vítimas da doença, com 5.017 óbitos, e ultrapassou o total registrado na China — que registra oficialmente 4.637 mortes.
Outras 1.156 mortes ainda estão em investigação, segundo dados oficiais.
Ao notar que a entrevista era transmitida ao vivo por televisões brasileiras, o presidente amenizou o discurso.
"Lamento a situação que atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos. A grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida", disse.
Relembre outras reações semelhantes do presidente
Incêndio no Museu Nacional - E daí?
© Reuters Acervo do Museu Nacional foi praticamente todo consumido pelo fogo em 2 de setembro de 2018
"Tá, e daí? Já tá feito, já pegou fogo, quer que eu faça o quê? O meu nome é Messias mas eu não tenho como fazer milagre."
Foi assim, com palavras quase idênticas às empregadas nesta semana sobre a crise do coronavírus, que Bolsonaro reagiu quando questionado sobre o incêndio que atingiu quase 20 milhões de itens e destruiu quase todo o acervo histórico e científico com mais de 200 anos no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em setembro de 2018.
Nos corredores da Câmara dos Deputados, um jornalista havia questionado o então candidato sobre propostas para a proteção do patrimônio histórico nacional.
"Eu não vou responder você. Você estava no Rio ontem?", disse Bolsonaro. "Olha, a administração toda é de gente filiada ao PSOL e do PCdoB. A indicação política leva a isso. Os partidos se aproveitam, vendem o seu voto aqui dentro, como regra, para que a administração seja deficitária e lucrativa para eles individualmente."
Diante da insistência por uma resposta objetiva sobre ações para evitar que novas tragédias acontecessem, Bolsonaro optou por criticar rivais políticos.
"Se não tem dinheiro, ué, paciência. Agora dinheiro para Queer Museum, aquele negócio de homem nu para criança tocar não falta. Para escrever a vida de José Dirceu também não falta da Lei Rouanet."
Réu no STF - E daí?
Em dezembro de 2018, quando questionado sobre um inquérito aberto pela polícia federal para investigar o então futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro citou uma investigação sobre si próprio com desdém.
"Eu sou réu no Supremo Tribunal Federal. E daí?", disse.
O então presidente eleito continuou.
"Todo mundo com quem converso, seja amigo ou não, diz que é uma coisa que beira o absurdo. Eu estava defendendo uma mulher vítima de estupro. Eu defendi uma condenação para o estuprador. O outro lado defendia que o estuprador deveria ser tratado como um garotinho que abusou por cinco dias e matou uma menina de 16 anos. E eu acabei réu. É justo isso?"
Ele se referia a um processo contra ele no STF por apologia ao crime de estupro e injúria após ter afirmado que a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) "não merece" ser estuprada.
Após dizer a frase no plenário da Câmara dos Deputados, o então deputado repetiu a frase em uma entrevista. "Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero."
Bolsonaro foi condenado em primeira instância em 2015, depois teve a condenação confirmada em 2017 pelo STJ.
Ele pediu o arquivamento do caso ao STF, alegando que sua imunidade parlamentar permitiria as declarações.
Mas a Corte manteve a condenação e aumentou o valor devido por Bolsonaro com os honorários à defesa de Maria do Rosário, de 10% para 15% do valor da causa.
Acusado de nepotismo - E daí?
© Adriano Machado/Reuters Após repercussão negativa, Bolsonaro recuou da nomeação do filho Eduardo à embaixada em Washington
Em agosto de 2019, enquanto sofria duras críticas por tentar indicar o próprio filho, que não tinha qualquer formação ou experiência internacional, ao posto máximo da embaixada mais importante do Brasil no exterior, em Washington (EUA), Bolsonaro classificou críticos como hipócritas e mais uma vez recorreu à expressão.
"Tem ministro com toda certeza que tem parente empregado, com DAS (cargo comissionado). E daí?", questionou.
"Que mania de que tudo que é parente de político não presta. Tenho um filho que está para ir para os EUA e foi elogiado pelo presidente norte-americano Donald Trump. Vocês massacraram meu filho: fritador de hamburger."
Na oportunidade, o presidente - que já lançou e serve como principal cabo eleitoral de três filhos na carreira política - aproveitou para criticar decisões do STF sobre nepotismo e homofobia.
"O STF decidiu sobre nepotismo e sobre tipificar homofobia como racismo. Acho que quem tem que decidir sobre essas coisas é o Legislativo. Teve um parlamentar contra o nepotismo que foi pego na Lava Jato. Tem nada a ver parente", afirmou.
Em 22 de outubro, após perceber que não teriam apoio parlamentar para a indicação à embaixada, Bolsonaro e o filho Eduardo recuaram e desistiram da indicação.
Amigo do filho investigado no comando da PF - E daí?
© Carolina Antunes/PR Alexandre Ramagem é delegado da Polícia Federal desde 2005
Questionado pelo Facebook, no último dia 27, sobre a nomeação de um amigo da família para diretor-geral da Polícia Federal, Bolsonaro escreveu:
"E daí? Antes de conhecer meus filhos, eu conheci o Ramagem. Por isso deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?".
Ele se referia ao delegado federal Alexandre Ramagem Rodrigues, que dirigia a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e se tornou próximo da família presidencial em 2018.
Ramagem se aproximou dos Bolsonaros durante a campanha presidencial, quando foi destacado pela PF para coordenar a segurança do candidato após ele ter sido alvo de uma facada em setembro e quase morrer.
Assim, ganhou proximidade com a família e chegou a passar a virada de 2018 para 2019 em uma festa de Ano Novo com o vereador Carlos Bolsonaro.
Ao pedir demissão, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse que Bolsonaro quer um diretor da PF que lhe passe informações sobre investigações. Ele disse que o presidente manifestou especial interesse em inquéritos que tramitam no STF.
Um dessas investigações apura a disseminação de notícias falsas e ataques aos ministros do Supremo.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a PF teria identificado envolvimento do vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, filho do presidente, nessas ações criminosas.
Nesta quarta-feira, no entanto, o ministro do STF concedeu liminar suspendendo a nomeação de Ramagem ao cargo de diretor-geral da PF. Diante disso, o presidente recuou e decidiu anular a nomeação publicada no Diário Oficial.
Fonte: https://www.msn.com/
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