A mesma cena


Cidades | Em 22/03/14 às 11h01, atualizado em 22/03/14 às 11h02 | Por Roberto Cavalcanti
 
Fechem as cortinas, degustem os atos. E se permitam comparar: o que são – como podemos efetivamente chamar - as operações dos partidos em relação à partilha de cargos públicos, notadamente os ministérios?
 
Cena 1: um partido político ascende ao poder e, para obter apoio no Congresso Nacional, compra votos de parlamentares e de partidos. Usa dinheiro público – muito dinheiro - como moeda de troca nesta operação de cooptação.

Cena 2: esse mesmo partido, em cada episódio de reforma ministerial, se vê chantageado por seus apoiadores. Com direito até a “rebeliões” caso os pleitos dos aliados por pastas não sejam contemplados.

Esse é o teatro político – e suas cenas repetitivas – que continuadamente assistimos desfilar no picadeiro armado no epicentro do poder no Brasil.

Fechem as cortinas, degustem os atos. E se permitam comparar: o que são – como podemos efetivamente chamar - as operações dos partidos em relação à partilha de cargos públicos, notadamente os ministérios? E em que elas diferem do esquema criminoso de compra de votos?

Um barganhava votos por dinheiro; o outro negocia votos por cargos – onde se ganha dinheiro, muito dinheiro.

Ouso dizer que, se há alguma diferença possível entre cena um e cena dois é que, no primeiro ato, sabia-se de antemão o preço de cada um.

No segundo, porém, abrem-se as portas das pastas sem saber quanto será surrupiado dos cofres públicos através de licitações com cartas marcadas, compras superfaturadas, cabides de empregos, “mimos” distribuídos pela massa lobista que lota os corredores de Brasília.

A rebeldia que se segue a eventuais não indicações é termômetro seguro das altas voltagens de energia que as agremiações políticas desprendem na cobiça das melhores cadeiras da Esplanada dos Ministérios.

Se fôssemos ingênuos, poderíamos imaginar que os desejos explícitos por indicações poderiam ser – quem sabe – para homenagear membros do partido.

Como a política acabou com o que restava da nossa ingenuidade, não resta outro entendimento: é para fazer dinheiro com a máquina pública.

E isto fica evidente no desprezo por ministérios que não têm grandes dotações orçamentárias. Não sem razão, os alvos são sempre as pastas com os maiores orçamentos.

Pesca, Turismo, Ação Social? Não, muito obrigado.

Integração, Cidades, Saúde e Educação? Estamos a postos!

Pois não basta ser ministro, tem que ser ministro em pastas com alto potencial de manipulação do orçamento público, onde os partidos contemplados têm acesso facilitado.

E esse é um jogo jogado à luz do dia, com as técnicas e táticas expostas de forma desavergonhada. Pois não há temor.

Mas há danos. Incalculáveis. Inimagináveis.

Estranhamente, a grande imprensa, que ajudou a condenar os criminosos do primeiro ato, exalta os chantagistas que entram em cena na sequência do enredo político. Para esta parcela da mídia, a culpa é do partido instalado no poder e sua imperícia para fazer a pacificação nas bancadas “aliadas”.

Se estivéssemos em um país mais sério, bancadas que chantageiam e se rebelam quando têm suas pretensões frustradas não deveriam conquistar espaços privilegiados nos editoriais e sim nas celas que, felizmente, estão ocupadas pelos criminosos que lesaram os cofres públicos com as operações de compra de votos.

Mais que isso: deveriam deixar de existir enquanto representação política. Deveriam ser fulminadas.

Mas não são. São exaltadas nos jornais. E pior: nas urnas – onde eu, você, a pluralidade do povo banca mais cenas análogas e espicha este triste capítulo da história política brasileira.

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