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O senador Ronaldo Caiado (DEM), à esq., e o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner |
Pouco antes do início da votação na Câmara que selou o destino de
Fernando Collor de Mello, em 29 em setembro de 1992, um deputado de
primeiro mandato subiu à tribuna para revelar que, na véspera, o
Planalto havia organizado três jantares para tentar deter o impeachment.
"Em um deles eram esperados 30 deputados, mas só apareceram seis
deputados. Os seis tiveram de jantar três vezes naquela noite, uma em
cada casa, porque eram os únicos dispostos para a festa macabra", contou
o então estreante Jaques Wagner (PT-BA), à época com 41 anos.
Jaques Wagner terminou o discurso em tom teatral: "Bye, bye, Fernandinho".
A ovação a Wagner e a dezenas de outros opositores pelas galerias
naquela tarde era o termômetro da votação, que terminou com 441 votos
pela continuidade do impeachment contra 38.
Vinte e três anos depois, o destino da presidente Dilma Rousseff, alvo de denúncia que pode apeá-la do Planalto, depende, em parte, de veteranos da deposição de Collor.
Algoz do alagoano em 1992, o fundador do PT Hélio Bicudo é agora um dos autores da tese de que Dilma cometeu crime de responsabilidade.
Lindbergh Farias, que ganhou projeção como líder dos cara-pintadas que
encheriam as ruas, é hoje senador pelo PT-RJ e defensor do mandato da
presidente.
'TIMING'
Relator da CPI que empurrou Collor ao despenhadeiro, Benito Gama
(PTB-BA) calcula que a situação de Dilma seja pior do que a do
ex-presidente no início dos anos 90. O tempo, segundo ele, joga contra o
governo. Quanto mais tardar a votação, maior tende ser a mobilização
anti-Dilma.
Benito Gama não vê inconveniente em não haver contra Dilma uma prova de
corrupção pessoal similar ao Fiat Elba pago pelo ex-caixa de campanha PC
Farias e usado pela família de Collor.
"Não se trata apenas de improbidade, não é possível que todo o entorno
dela tenha apodrecido e ela, não", afirma o deputado. "Collor estava
cercado de operadores experientes, mas foi tragado rapidamente pela
força da opinião pública", declarou.
"Hoje, o clima é tão negativo que pouca gente da base se atreve a declarar voto", comparou.
ESCONDERIJO
Quando a crise eclodiu, Collor tinha apoio nos Estados, mas a base se erodiu.
Como a votação era televisionada e cada deputado chamado, por ordem
alfabética, para declarar o voto no microfone, Collor perdeu o resto do
apoio que tinha por causa da maré que se formou.
O apoio dos governadores a Collor produziu cenas inusitadas. No terceiro
mandato como governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães (1927-2007)
enquadrou a bancada para votar por Collor.
Gravitando na órbita carlista, o deputado Aroldo Cedraz não apareceu quando seu nome foi chamado.
Sob condição de anonimato, três ex-deputados contaram que Cedraz ficou
escondido na Câmara porque não queria contrariar ACM nem confrontar a
opinião pública.
Hoje presidente do Tribunal de Contas da União, Cedraz só apareceu para
votar (contra Collor) depois que a situação era irreversível.
Procurado, ele não respondeu ao pedido de entrevista.
A VÉSPERA E O PÓS
Presidente da Câmara em 1992, o gaúcho Ibsen Pinheiro destoa de parcela
do seu PMDB ao afirmar que não vê motivo jurídico nem completo
isolamento político de Dilma –ingredientes básicos de um impeachment.
"Ainda não foi encontrada a impressão digital dela em nenhum crime. Ao menos ainda não", afirma.
Hoje deputado estadual no Rio Grande do Sul, Ibsen já teve o mandato
cassado e mais tarde foi reabilitado politicamente. Ele é um crítico da
atuação correligionário Eduardo Cunha (RJ).
Segundo ele, as acusações contra o presidente da Câmara podem tornar vulneráveis a condução do impeachment.
Para Ibsen, a "arbitragem" do processo de 1992 permitiu ao país resolver
uma crise institucional sem o uso da força. "A vantagem desta
arbitragem é que o dia seguinte será melhor que a véspera. Seja qual for
o resultado", disse.
Se Dilma salvar o mandato, ela ganha a chance de reiniciar o governo
fora das cordas. Se o impeachment for adiante, um novo governo poderá
acabar com a crise.
EU SOU VOCÊ AMANHÃ
À época deputado, Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi um dos poucos a não
abandonar Collor. Na véspera da votação, ele subiu à tribuna com um
prognóstico: "se Deus quiser, o setor rural e o interior do Brasil vão
se levantar contra isso [impeachment]".
Profecia furada. Collor renunciou três meses mais tarde, quando o Senado instaurou o processo para cassá-lo.
Hoje senador e inspiração para antipetistas de última geração, Caiado
defende o voto para salvar Collor criticando o rito acelerado da época.
"O escândalo do PC Farias é coisa de tribunal de pequenas causas perto
do que está acontecendo. Como não há envolvimento se a propina do
petrolão foi parar na campanha dela?", questiona.
Se duas décadas transformaram o bombeiro em incendiário, o processo contrário ocorreu com o petismo.
Portador da caneta que nomeia e exonera, o ministro da Casa Civil,
Jaques Wagner, tem agora a missão de organizar jantares parecidos com os
que abominava há 23 anos.
Cabe a ele tentar abortar o "bye, bye, Dilminha".
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