A presidente afastada, Dilma Rousseff, sinalizou a senadores e aliados
que aceitaria propor um plebiscito para definir a convocação de novas
eleições presidenciais, caso seja reconduzida ao cargo.
Segundo pessoas próximas à petista e parlamentares que a procuraram para
tratar do assunto na quarta (8), Dilma demonstrou disposição em abraçar
a proposta, se ela for adotada, primeiro, pelos movimentos sociais.
A promessa de que terá disposição para deixar o Planalto caso seja
reconduzida é o principal argumento que aliados da petista têm usado
para tentar reverter votos no Senado contra sua cassação. No Senado
Dilma teve 22 votos contra seu afastamento. Precisa de 27 para barrar o impeachment.
Em entrevista à TV Brasil nesta quinta (9), Dilma defendeu uma consulta popular para 'lavar lambança' do governo interino de Michel Temer.
A ideia é que a proposta de novas eleições surja como uma demanda das
ruas, para minimizar a tese de que, na verdade, esse caminho representa
uma admissão de que a petista não tem condições de governar até 2018.
O problema é que não há consenso sobre o assunto entre os movimentos
sociais e, ainda que houvesse, o fato de a petista deixar o cargo não
garante que o hoje Temer fará o mesmo.
Os principais articuladores da proposta reconhecem que esse é o
principal entrave, inclusive jurídico, à viabilidade das novas eleições.
No Congresso, aliados de Temer dizem ainda que, de saída, a medida é
inconstitucional, porque implica o encurtamento do mandato.
Há também resistência na base social do PT. A principal vem do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Procurado pela Folha, o líder do MST, João Pedro Stédile, refutou a tese e disse que "não há fórmula mágica de antecipação de eleições".
"O MST e a ampla maioria dos movimentos da Frente Brasil Popular têm
como linha política lutar contra o governo golpista de [Michel] Temer e
exigir a revogação do processo contra a presidente Dilma, para que ela
reassuma", disse Stédile.
Segundo ele, o MST já deixou claro para a petista que, se ela voltar ao
Planalto, precisaria repactuar o governo, sinalizando para os grupos que
a apoiaram.
O discurso do MST é o de que só uma reforma política ampla poria fim à
crise. Por isso, defende que Dilma convoque um plebiscito sobre a
realização de Assembleia Nacional Constituinte para discutir esse tema.
Stédile admite, por fim, que "antecipar eleições presidenciais ou gerais
não resolve os problemas. Ao contrário, poderia legitimar as mesmas
forças conservadoras que deram o golpe".
Outros líderes, no entanto, como Guilherme Boulos, do MTST (Movimento
dos Trabalhadores Sem Teto), concordam com a convocação de novas
eleições. Por isso, até que o impasse se resolva, a ordem é que Dilma
não fale publicamente sobre o assunto.
Aliados de Dilma já trabalham com um cronograma. Ele que prevê que, uma
vez reempossada, a petista convoque o plebiscito, e, vencendo a tese de
novas eleições, envie uma mensagem ao Congresso dizendo que abre mão de
seu mandato.
Leia a íntegra da posição de João Pedro Stédile enviada à Folha.
*
O MST e a ampla maioria dos movimentos da Frente Brasil Popular têm
como linha política lutar contra o governo golpista de Temer e exigir a
revogação do processo contra a presidenta Dilma, para que ela reassuma
em 17 de agosto de 2016.
E já apresentamos à presidenta a necessidade de que anuncie ao povo
brasileiro seu novo programa de governo, com uma nova política econômica
que atenda às necessidades da população e tire o país da crise.
Montar um novo ministério em diálogo e representativo das forças da
sociedade que a apoiaram. Ao mesmo tempo, que se comprometa a promover a
reforma política, que somente poderá vir por meio de um plebiscito
nacional que convoque eleições para uma assembleia constituinte
exclusiva. Como, aliás, ela já se manifestou favoravelmente em recente
entrevista à revista "Carta Capital".
A crise na qual o país está envolvido somente será resolvida com uma
ampla reforma política, que mude os critérios e garanta a verdadeira
representação do povo.
Antecipar eleições presidenciais ou gerais não resolve os problemas
da crise política e, ao contrário, poderia legitimar as mesmas forças
conservadoras que deram o golpe, para implementar um programa neoliberal
e conservador na sociedade.
Todos sabemos que a derrota dos golpistas no Senado, e a
implementação da reforma política necessária somente virá com a pressão
de mobilizações populares, que espero aumentem a cada dia.
Não há pois nenhuma fórmula mágica de antecipação de eleições que se
viabilize no curto prazo e resolva os problemas da política. Se os
senadores sérios fossem a maioria no Senado, já teriam aprovado a PEC de
antecipação das eleições gerais (antes do processo de impecheament) e,
melhor ainda, o projeto de lei que convoca um plebiscito sobre a reforma
politica via assembleia constituinte, que estão lá dormindo nas gavetas
do Senado.
Fonte: Folha de SP
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