Apresentada hoje aos líderes partidários do Congresso, a proposta de um limite máximo para os gastos públicos tem como alvos imediatos a saúde, a educação, o Legislativo e o Judiciário.
As duas áreas sociais perdem, por pelo menos nove anos, a garantia de
verbas mínimas vinculadas a uma fatia da receita do governo; os dois
Poderes -além do Ministério Público e da Defensoria Pública, cujos
orçamentos são pouco relevantes- perdem autonomia para expandir as
próprias despesas.
Pela Constituição, a saúde deve receber 15% da receita total da
União; a educação, 18% da receita dos impostos (sobre renda, produtos
industrializados, operações financeiras e importações), além do
salário-educação, uma contribuição cobrada sobre a folha de salários.
Todas essas regras ficam suspensas pela proposta.
Quando a economia voltar a crescer, as receitas dos tributos também
vão aumentar acima da inflação, mas saúde e educação não se beneficiarão
automaticamente desses ganhos.
Evidentemente, outras áreas do Executivo também serão afetadas, mas,
para controlar desembolsos como pessoal e investimentos, não seria
necessária uma emenda constitucional.
Trata-se de um projeto politicamente indigesto, com enorme
repercussão sobre a gestão do governo. Se as regras estivessem em vigor
nos últimos dez anos, o gasto público seria pouco mais da metade do que é
hoje.
Do lado positivo, a nova orientação força gestores a buscarem melhor
gerenciamento das despesas -algo não muito necessário quando há um
aumento de recursos garantido todos os anos.
Além disso, trava o apetite dos demais Poderes por contratações e
reajustes salariais. Isso, é claro, na improvável hipótese de o texto
ser mantido exatamente como está.
Na atual conjuntura de vacas magras, fica mais fácil impor o teto
proposto por Michel Temer: afinal, as receitas estão crescendo abaixo da
inflação. Difícil será resistir às pressões de políticos e grupos de
interesse quando a economia estiver mais favorável.
Há ainda outra grande incógnita -a reforma da Previdência. Sem
alteração das normas para a concessão de benefícios e o reajuste do
salário mínimo, os gastos com aposentadorias e pensões continuarão
crescendo acima da inflação, devido ao envelhecimento dos brasileiros.
Nesse cenário, o cumprimento da limite para a despesa total exigirá
achatar crescentemente outras áreas, como defesa, segurança e
infraestrutura, ampliando as distorções do Orçamento federal.
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