"É uma guerra, tem sido uma guerra", disse o presidente interino, Michel Temer, à Folha sobre seu primeiro mês de governo, que se completa neste domingo (12).
A frase revela seu estado de espírito por enfrentar mais dificuldades do
que antecipava. Em 30 dias, perdeu dois ministros, recuou em decisões e
encontrou situação fiscal pior que imaginava.
Alojado no gabinete presidencial, dando sinais de cansaço diante de mais
uma noite de poucas horas de sono, Temer diz não se incomodar com as
batalhas diárias. "Apesar de todas as turbulências, críticas e pressões,
foi um mês de sucesso", afirmou o peemedebista na quinta (9).
Faz questão de enumerar o que classifica de "saldo positivo", listando
as medidas aprovadas no Congresso que a "Dilma não conseguia", como a
mudança da meta fiscal, a prorrogação da DRU (mecanismo que desvincula
receitas da União) e a aprovação do presidente do Banco Central, Ilan
Goldfajn.
"Restabelecemos a interlocução com o Congresso, votamos projetos com
ampla maioria e estamos retomando a confiança no país, não é pouca coisa
para um começo de governo", afirmou, buscando rechaçar as críticas de
início de administração marcado por idas e vindas.
Criticado por montar um ministério sem mulheres e integrado por
políticos citados na Lava Jato, o peemedebista prefere dizer que "montei
um time de primeira grandeza na área econômica", citando Henrique
Meirelles (Fazenda), Pedro Parente (Petrobras), Maria Silvia Bastos
Marques (BNDES) e Goldfajn.
Ele gosta de repetir que, numa hipótese de não permanecer no governo, o
país estará "salvo" se a equipe econômica for mantida. Indagado se seu
comentário revela temor de volta de afastada Dilma Rousseff, ele diz
preferir não avaliar: "Eu não tenho feito nenhum gesto contra ela.
Respeito quem passou".
A interlocutores, contudo, demonstra confiança na permanência. Nem mesmo
as ameaças de senadores nos últimos dias de mudar de lado e votar
contra o impeachment abalam a crença de Temer de que ficará até 2018.
Sobre a tese de plebiscito para convocar novas eleições, encampada pela
petista como estratégia para tentar ganhar o julgamento do impeachment
no Senado, Temer, antes de tudo, lembra: "Primeiro, eu preciso
renunciar". Em seguida, diz. "Depois, digo com toda tranquilidade, temos
tido mais de 300 votos, às vezes mais de 340 na Câmara. Isto reflete
confiança neste governo. Nossas vitórias no Congresso mostram que não
tem espaço para a Dilma voltar."
Provocado a citar a maior surpresa negativa neste primeiro mês de
governo, ele não aponta as demissões de ministros provocadas pela
delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, mas a situação
fiscal do país.
"Foi surpreendente, de forma negativa, o que encontramos aqui. As contas
muito piores do imaginávamos, a Petrobras quebrada, os Correios
quebrados, a Eletrobras quebrada. E eles ainda ficam numa campanha
agressiva contra mim", diz, em tom de desabafo.
Governo Temer - linha do tempo
MAIO
11 de maio - Após votação no Senado, Dilma Rousseff é afastada
12 de maio - O vice-presidente Michel Temer assume como
presidente interino, reduz número de ministérios e nomeia equipe de
ministros, todos homens e, em sua maioria, parlamentares.
12 de maio - Durante discurso, Temer engasga e mudança de voz
vira piada na internet. Interino lembra de placa em posto na Castello
Branco que diz "Não pense em crise, trabalhe"
12 de maio - A nova gestão adota logotipo com os dizeres "Ordem e
Progresso" e apenas 22 estrelas representando os Estados, 5 a menos do
que a bandeira brasileira
12 de maio - Na primeira entrevista internacional como interino, Temer confunde o jornalista argentino com o presidente Maurício Macri
13 de maio - O ministro da Fazenda Henrique Meirelles admite recriar CPMF, gerando reclamaçõs de parte da base aliada e empresários
16 de maio - O novo ministro da Justiça e Cidadania sugere, em
entrevista à Folha, que presidente não escolha o mais votado de lista
tríplice para Procuradoria-Geral da República e é desautorizado por
Temer
16 de maio - Imprensa descobre que autor de frase "Não pense em crise, trabalhe" citado por Temer em discurso, está preso por homicídio
17 de maio - Ministro da Saúde diz que SUS (Sistema Único de Saúde) precisa ser reduzido e é forçado por Temer a voltar atrás
17 de maio - Temer escolhe André Moura (PSC-SE), aliado de Cunha e alvo da Lava Jato, para ser líder do governo na Câmara
18 de maio - Após recusas de mulheres, Temer escolhe Marcelo Calero para secretaria da Cultura
19 de maio - Artistas fazem série de protestos e ocupações contra extinção do Ministério da Cultura
20 de maio - Governo passa a prever meta fiscal de R$ 170,5 bilhões, R$ 66 bilhões maior do que o previsto pela equipe de Dilma
21 de maio - Sob pressão, Temer recua e recria Ministério da Cultura
23 de maio - Em gravação revelada pela Folha, ministro
Romero Jucá sugere que havia um pacto entre políticos para deter Lava
Jato e pede exoneração no dia seguinte: "Tem que estancar essa sangria",
disse Jucá
24 de maio - Temer propõe teto de gastos para União. Durante
discurso, interino bate na mesa e diz que "sabe governar". "Já tratei
com bandidos"
29 de maio - Em gravação, ministro da Transparência, Fabiano
Silveira, critica Lava Jato. No dia seguinte, ele pede exoneração –foi a
segunda queda de um ministro em 19 dias de governo
-
JUNHO
1º de junho - Com aval de Temer, Câmara aprova criação de 14 mil cargos públicos
1º de junho - Temer indica ex-deputada Fátima Pelaes, que é
contra a legalização do aborto, para Secretaria de Políticas para
mulheres. Ela é suspeita de desviar dinheiro de emendas parlamentares
3 de junho - Temer limita voos e corta até gastos com comida da presidente afastada Dilma Rousseff
3 de junho - Em entrevista à Folha, que seria publicada
três dias depois, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirma que
quem estiver envolvido na Lava Jato sairá do governo
4 de junho - Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, diz em
delação que pagou R$ 70 milhões em propinas para Renan Calheiros, Romero
Jucá e José Sarney
5 de junho - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
afirma ao STF que o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) se
beneficiou do petrolão; Temer decide mantê-lo
6 de junho - Governo recua e diz que não aceitará criação dos 14 mil cargos públicos
7 de junho - Janot pede prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, José Sarney e Eduardo Cunha, acusando-os de obstruir a Lava Jato
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