30/08/2016 às 11h46
Abrindo
a fase de debates do julgamento de Dilma Rousseff no Senado, a advogada
Janaína Paschoal, que representa a acusação, disse nesta terça-feira
(30) que o “impeachment é um remédio constitucional, ao qual nós
precisamos recorrer quando a situação se revela especialmente grave, que
é o que aconteceu”.
Rebatendo a tese da defesa, de que o processo
pode ser considerado um golpe, caso haja condenação, a advogada
reafirmou que ele segue todos os ritos legais. “Para que o povo
brasileiro tenha consciência tranquila de que nada fora do que é legal e
do é legítimo está sendo feito nesta oportunidade.”
Janaína pediu desculpas à presidente afastada por “ter lhe causado sofrimento” e chegou a chorar no fim do discurso.
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‘Grande fraude’
Segundo ela, que se colocou como “defesora do Brasil”, o afastamento de Dilma não foi cogitado por “probleminhas contábeis”, mas porque ela fez dos brasileiros “vítimas de uma grande fraude”. “Esta grande fraude foi, de maneira muito preciosa, apontada pelo procurador do Ministério Público, Ivan Marx.”
A advogada criticou o uso que a defesa de Dilma fez do parecer de Ivan Marx, alegando que durante o julgamento foi mostrado apenas um trecho do texto, que diz que as “pedaladas fiscais” no Plano Safra não foram operação de crédito nem crime. “A parte em que ele escreveu que houve fraude nas ‘pedaladas’, esta não é citada”, disse Janaína. Segundo ela, o procurador poderia ter sido chamado para depor, mas não foi.
Janaína
Paschoal alegou que a fraude e a maquiagem das contas públicas
permitiram o aumento de gastos. Segundo ela, as pessoas acreditaram na
continuidade dos programas sociais, como o Fies e o Minha Casa, Minha
Vida, “não só porque a presidente mentiu, mas porque os balanços
mentiam. A fraude foi completa, a fraude foi na fala e a fraude foi
documental. Isso é ou não é um estelionato eleitoral? Eu entendo que
sim.”
Denúncia
Em seu discurso, a advogada falou ainda sobre a denúncia, que tinha inicialmente três pilares: omissão de Dilma diante do petrolão; as “pedaladas fiscais”; e os decretos de créditos suplementares editados em desconformidade com a meta. Segundo ela, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou apenas a parte das “pedaladas” e os decretos de créditos suplementares.
“Se esta denúncia tivesse sido feita pela
orientação do senhor presidente da Câmara teria sentido que ele
rejeitasse parte significativa da acusação? O senhor Eduardo Cunha
afastou tudo o que dizia respeito a petrolão. O senhor Eduardo Cunha
afastou tudo o que dizia respeito aos fatos anteriores a 2015. Mas
interpretou-se aquela primeira decisão a afastar tudo o que dizia
respeito ao BNDES, inclusive no ano de 2015”, afirmou.
Ela rebateu
o argumento da defesa de que o processo é um golpe porque foi iniciado
pelo presidente da Câmara. “Ontem [segunda-feira] eu fiquei surpresa com
a acusação de que teria havido um complô entre os denunciantes, o
Presidente da Câmara dos Deputados e partidos de oposição. Chegou-se ao
absurdo de dizer que o Presidente da Câmara dos Deputados teria – se eu
entendi – redigido a exordial ou ditado a exordial. Eu fiquei pensando:
teria sentido o Presidente da Câmara ter preparado uma exordial que, no
minuto seguinte, ele simplesmente retaliaria?”
Nesta segunda-feira, a presidente afastada fez um discurso em sua defesa e foi interrogada por senadores.
“Não
fosse a decisão do presidente da Câmara, a defesa não teria nenhum
argumento para sustentar aqui. Entendem que o presidente não tem
legitimidade. Por outro lado, aquela decisão primeira [antes de qualquer
alteração], eles se apegam com unhas e dentes. Ou bem o homem tem
legitimidade ou o homem não legitimidade. O que não dá para compreender é
que a um só tempo o homem seja a expressão do golpe e o limite da
legalidade.”
Globo
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