Esportes

Patrocínio estatal domina camisas de times da Série A







Treze dos vinte times da Série A do Campeonato Brasileiro têm em comum a mesma marca exposta nas suas camisas. Fato inédito nas grandes ligas do futebol mundial, a concentração da Caixa Econômica Federal como patrocinador da maioria dos clubes é um retrato da dependência do investimento estatal na elite do futebol.
Com Internacional e Grêmio apoiados pelo Banrisul, banco do Estado do Rio Grande do Sul, o número de times com parceria com empresas estatais chega a 15. Ou seja, 75% dos clubes da primeira divisão do Brasileiro recebem dinheiro público, seja ele federal ou estadual.
Em 2016, a Caixa investiu R$ 132,5 milhões para expor sua marca em camisas de futebol. Além das equipes da elite nacional, patrocina sete clubes da Série B.
O contrato com valor mais alto pertence ao Corinthians. Um dos primeiros a exibir a marca, o time alvinegro recebe R$ 30 milhões por ano.
Procurado para comentar sobre a parceria, o clube respondeu que "não pode opinar sobre a estratégia de comunicação".

Vinicius Costa/Futura Press/Folhapress
Vitinho do Internacional comemora gol durante a partida entre Internacional RS e Coritiba
Vitinho do Internacional comemora gol; equipe é patrocinada pela Banrisul
A Caixa afirma que "o patrocínio tem o propósito de transmitir uma mensagem de dinamismo e agilidade com potencial de rejuvenescimento da marca". A estatal informa que as parcerias ajudam a "incrementar os relacionamentos institucionais e negociais, possibilitando desenvolvimento de produtos e serviços destinados às pessoas físicas e pessoas jurídicas ligadas à cadeia de valor dos clubes de futebol".
O banco exige dos clubes interessados que eles estejam nas séries A ou B do Campeonato Brasileiro. Precisam também apresentar certidão negativa de débitos, comprovando que não possuem dívidas fiscais.
Oferecendo valores muitas vezes maiores do que empresas privadas, a Caixa passou a ser procurada pelos equipes a partir de 2012.
Caso da Chapecoense, que buscou o apoio estatal.
"Em 2012 disputávamos a Série C e o superintendente da região falou que não tinha jeito. No ano seguinte subimos, fizemos um projeto e levamos para a Caixa. Na época a verba não iria contemplar mais ninguém e tivemos que esperar até julho de 2013", afirmou Jandir Bordignon, vice-presidente de marketing do clube catarinense.

Nelson Almeida/AFP
Players of Brazil's Chapecoense celebrate after defeating Argentina's Independiente in a penalty shoot-out during their Sudamericana Cup match at the Arena Conda stadium, in Chapeco, Brazil, on September 28, 2016. / AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA ORG XMIT: SAO016
Jogadores da Chapecoense comemoram classificação na Sul-americana
HEGEMONIA
Essa não é a primeira vez que uma empresa vira onipresente em camisas de times do Brasileiro. Em 2011, o banco BMG, envolvido no escândalo do mensalão, chegou a expor sua marca em oito times da Série A do Brasileiro.
O modelo de negócio da instituição privada na época era distinto do usado pela Caixa. Além do valor do patrocínio, o BMG financiava a contratação de jogadores.
Um dos últimos clubes a acertar acordo com a Caixa Econômica Federal, o Santos ficou por quase três temporadas sem um patrocinador principal fixo. Antes, teve contrato com o BMG, que encerrou em 2013, ano em que Neymar foi vendido.
"O Brasil vive uma crise financeira grande. Isso inviabiliza muitas empresas de investirem em um patrocínio no futebol ou no esporte", afirma Modesto Roma Júnior, presidente do Santos.
O especialista em gestão esportiva, Pedro Daniel, da consultoria BDO, vê outra explicação para o afastamento de empresas privadas.
"O que falta é uma questão de governança dos clubes. A falta de transparência faz com que as marcas deixem de investir no futebol", diz. 






Ale Cabral/Agif/Folhapress
SAO PAULO - SP - 13/10/16 - BRASILEIRO 2016/SAO PAULO X SANTOS - Copete do Santos comemora seu gol durante partida do Campeonato Brasileiro no Estadio do Pacaembu. Foto: Ale Cabral/AGIF ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Copete comemora gol pelo Santos; equipe é uma das patrocinadas pela Caixa
São Paulo e Palmeiras também passaram mais de uma temporada sem um patrocínio fixo. As equipes buscaram acordos pontuais, com rentabilidade menor.
"Quando você [empresa] opta por um time, você tem sempre um risco de rejeição da torcida rival. Então, isso acaba gerando entre as empresas algumas preocupações. E isso afasta o investimento", opina Anderson Gurgel, professor de marketing esportivo no Mackenzie.
Segundo ele, o caminho para as marcas acaba sendo muitas vezes o de evitar associar-se a equipes.
"Ou elas apoiam a seleção ou patrocinam vários clubes ao mesmo tempo, que é um pouco do que a Caixa está fazendo. Ela está tentando mapear para diminuir rejeição em relação a torcidas rivais", completa.
CAMISA VAZIA
Sem um anunciante fixo, o São Paulo viu sua receita com patrocínios cair de R$ 33 milhões, em 2013, para R$ 19 milhões em 2015.
Desde o início de 2016, o clube expõe a marca da operadora de saúda Prevent Senior. Os valores do contrato não foram divulgados, mas estima-se cheguem a R$ 25 milhões por ano.
O Palmeiras também viveu situação semelhante à do rival. Durante dois anos, entre 2013 e 2015, o clube foi obrigado a colocar em sua camisa o logo do programa do Sócio-torcedor para não ficar com o lugar mais nobre vazio.
O alviverde tem hoje o maior patrocínio do futebol brasileiro.
A parceria com a Crefisa garante ao Palmeiras R$ 66 milhões por anos. A equipe divulga em sua camisa as marcas da empresa de crédito pessoal e da Faculdade das Américas, que pertencentes ao mesmo dono.

Cesar Grecco/ Ag. Palmeiras/Divulgação
Em jogo de cinco gols, Palmeiras vence Santa Cruz e aumenta vantagem na liderança
Róger Guedes, do Palmeiras, em jogo contra o Santa Cruz; alviverde tem acordo com a Crefisa

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