Na
tarde desta quinta-feira (8), o presidente da República, Michel Temer,
reuniu-se com a bancada de parlamentares da Paraíba para discutir a
crise hídrica no estado. Na oportunidade Temer garantiu a liberação de
R$ 7,5 milhões para a execução de obras emergenciais para atender
Campina Grande e os outros 18 municípios.
Estiveram presentes na reunião os deputados federais Benjamin
Maranhão, Rômulo Gouveia (PSD), Pedro Cunha Lima (PSDB), Wilson Filho
(PTB), Efraim Filho (DEM) e Aguinaldo Ribeiro (PP), e os senadores José
Maranhão (PMDB), Raimundo Lira (PMDB) e Deca do Atacadão (PSDB). Por
Redação com Assessoria.
Leia a carta entregue pela Bancada ao presidente Michel Temer:
Excelentíssimo senhor presidente Michel Temer,
A Paraíba pede socorro
“Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e novembro
Já estamos em dezembro
Meu Deus, que é de nós
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz”
(Patativa do Assaré)
Setembro passou
Outubro e novembro
Já estamos em dezembro
Meu Deus, que é de nós
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz”
(Patativa do Assaré)
A Paraíba assiste desolada a maior crise hídrica de sua história.
Oitenta e oito por cento (88%) dos municípios paraibanos estão em
situação de emergência. Das 223 cidades do Estado, 197 precisam de ajuda
de forma emergencial para enfrentar o grave problema de
desabastecimento de água que assola sua população.
É um Estado quase que em sua totalidade amargando o dessabor de
conviver com a privação severa da ausência de água. Sabemos que essa
escassez na Paraíba e em todo o Semiárido nordestino é problema
histórico, enfrentado desde o início do processo de povoamento dessa
região do País. Contudo, a ausência de uma política permanente de
armazenamento e distribuição desses recursos fez com que a situação em
nosso Estado tenha se tornado ano a ano mais dramática. Além disso, a
diminuição na quantidade de chuvas nesses últimos seis anos fez o que já
vinha ruim, piorar ainda muito mais.
Para que se tenha uma ideia da situação em que estamos, dos 126
mananciais monitorados pela Agência Estadual de Gestão das Águas (Aesa),
70 deles, o equivalente a 55%, têm hoje menos de 5% de sua capacidade.
Outros 28 têm menos de 20% da quantidade de água que podem abrigar.
Nossos rebanhos foram dizimados, plantações quase não existem e a
produção de leite hoje é insignificante. Mas, a situação mais alarmante
é a falta de água para o consumo humano, em alguns lugares as pessoas
estão utilizando lama. Até a merenda escolar foi modificada. Hoje, os
alunos comem alimentos que não precisam de preparo, pois não há água
para cozinhar e muito menos para lavar utensílios. Em alguns municípios o
ano letivo foi reduzido.
Chegamos ao ponto crítico da falta de água atingir até as regiões
que não estão localizadas no Sertão, área com menor densidade
pluviométrica. O desabastecimento abateu a segunda maior cidade do
Estado, situada no agreste paraibano, na Serra da Borborema. Lá, a terra
do Maior São João do Mundo, Campina Grande, vive, sem dúvida alguma, o
pior momento de sua história, no tocante ao fornecimento de água.
O açude Epitácio Pessoa, que atende a Campina e outros 18
municípios da região, acumula somente 5,2% de sua capacidade total.
‘Boqueirão’, como é mais conhecido, tem capacidade para 411.686,287 m³,
mas só armazena hoje 21.609.456 m³. A situação hoje é preocupante, mas o
cenário que se desenha para um futuro próximo é de mais alerta:
Boqueirão pode vir a secar por completo no início do próximo ano. Antes
que as águas da Transposição do Rio São Francisco cheguem em território
paraibano.
O quadro se repete em outros grandes mananciais do Estado.
Coremas, que pode armazenar 591.646.222 m³, possui hoje apenas 2,6% de
água. O açude de Engenheiro Ávidos está com 5,2% de seu volume
preenchido. E assim, segue todos os mananciais que abastecem as cidades
paraibanas. A exceção está apenas no Litoral, que ainda pode contar com
grande reserva.
Portanto, senhor presidente, os parlamentes paraibanos solicitam a
Vossa Excelência a execução de ações emergenciais que possam aliviar o
sofrimento das famílias que amargam a convivência com a escassez de água
e ainda precisam lidar com a forma mal planejada de fazer com que esse
bem tão precioso chegue até elas.
Solicitamos a construção de adutoras de engate rápido, um maior
aporte de recursos para a contratação de carros-pipa e para a construção
de cisternas. E, como não poderia deixar de ser, pedimos empenho
completo para que as obras da transposição das águas do Rio São
Francisco sejam percebidas como prioridade absoluta, como sendo assunto
de segurança e emergência nacional e, assim, possam ser concluídas
dentro do cronograma previsto, com a expectativa que cheguem ao Eixo
Leste, no município paraibano de Monteiro, em abril do próximo ano.
Já é sabido que seca no Nordeste é um problema sócio-político e
não climático, pois existe tecnologia capaz de garantir o sucesso do
armazenamento e distribuição de água e ainda do seu uso para as
atividades agropecuárias em regiões semi-áridas. Mas, o que se criou no
Nordeste brasileiro foi uma cruel falta de atenção ao desenvolvimento e
até a subsistência de um povo, trazendo prejuízos históricos a milhares
de pessoas. Se não podemos mais modificar o passado, nos vemos diante da
latente chance de mudar o futuro e fazer com que as novas gerações de
nordestinos enxerguem a falta de água como um problema que ficará nas
más lembranças do tempo pretérito.
Bancada de parlamentares paraibanos no Congresso Nacional
Brasília, 08 de dezembro de 2016.
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