Companheiros de viagem rumo a dias de descanso em uma paradisíaca
propriedade em Paraty, Teori Zavascki, 68, e Carlos Alberto Filgueiras,
69, o anfitrião e dono da aeronave acidentada, eram dois amigos
improváveis.
"Self-made man", o empresário à frente do Grupo Emiliano
de hotéis é descrito como uma figura leve, festeira, exuberante, que
apreciava sem moderação as boas coisas da vida. Gostava de música,
charutos e mulheres bonitas e jovens.
Já o ministro do STF, era um tipo pouco sociável, formal e de
temperamento mais germânico, que virou hóspede frequente do hotel
Emiliano, nos Jardins, quando vivia um drama familiar.
Durante um ano acompanhou o tratamento de câncer da mulher que amava, tendo escolhido o hotel pela proximidade com o Hospital Sírio-Libanês.
Ao ficar viúvo em 2013, Teori continuou próximo ao empresário do ramo de
hotelaria, que se destacou no ramo pela excelência no atendimento em um
nicho de altíssimo luxo. Sempre que queria fugir de Brasília e das
pressões de ser o relator da Lava Jato no Supremo, o ministro buscava a
companhia de Filgueiras, com quem podia falar de vinho, de arte.
Até mesmo em razão de hábitos e interesses tão diferentes, o ministro se sentia protegido nesse universo
ao redor do dono do Emiliano. Era tratado sem a formalidade e os
salamaleques da Corte, mas com todo o conforto e as regalias do "bon
vivant" da hotelaria.
"Uma tragédia os uniu e outra os levou", resume um amigo. Além do piloto Osmar Rodrigues, 56, de Teori e Filgueiras, mais duas mulheres estavam no avião no momento do acidente.
Eram Maíra Panas, 23, e sua mãe, Maria Hilda Panas, 55. "Maíra era
massoterapeuta e prestava serviço a Carlos Alberto Fernandes Filgueiras,
que passava por tratamento no ciático", informa o Grupo Emiliano, em
nota. "Maria Ilda, professora da rede infantil de ensino, veio de Juína,
em Mato Grosso, visitar a filha, que morava em São Paulo."
A Folha apurou que a presença da mãe foi uma condição imposta pela massoterapeuta para aceitar o serviço e se deslocar até Paraty.
AVENTURA EMPRESARIAL
Antes de criar um hotel icônico como o Emiliano, Filgueiras trabalhou em
Serra Pelada, foi dono de madeireira e atuou no mercado de incorporação
de imóveis. Fez fortuna e alimentou um espírito aventureiro até
resolver entrar para o ramo de hotelaria depois de um fracasso.
Transformou o prédio de apartamentos de dois quartos na valorizada
região dos Jardins, que havia encalhado nas vendas, em um hotel de luxo.
Deu o nome de Emiliano, o mesmo de um dos quatro filhos. É pai também
de Gustavo que, nos últimos cinco anos, vinha preparando para assumir os
negócios na sua ausência.
Paraty era o seu paraíso privado, de onde mandava vir peixe fresco diariamente para o restaurante do hotel e recebia os amigos.
"Carlos Alberto foi uma das pessoas mais espetaculares e generosas que
conheci na vida. Nunca vi ninguém com senso estético e de beleza tão
apurado. Sabia ver o belo e reproduzir", define o consultor Mario Rosa,
um dos clientes habitués do Emiliano de São Paulo, onde é recebido com
mordomias extras, como a de deixar suas roupas no hotel e ao retornar ao
hotel ser recebido com o quarto remontado como se não tivesse se
ausentado.
Filgueiras morava em um apartamento no prédio ao lado do hotel e ali
também mantinha outros dois imóveis nos quais hospedava os clientes
fiéis do Emiliano, em caso de algum deles chegar e não haver quartos
disponíveis. Ao mesmo tempo que era simples e informal no trato, ele
buscava a sofisticação em detalhes.
Em um golpe de sorte, Filgueiras comprou um painel de Burle Marx por R$
20 mil, de um antigo funcionário do paisagista e artista plástico. Uniu
mais uma vez seu senso de beleza, pragmatismo e oportunidade para fazer
do mural a peça principal do saguão principal do recém-inaugurado
Emiliano do Rio de Janeiro. O mural inspirou toda a arquitetura do novo
hotel que leva a assinatura de Arthur Casas.
"Carlos Alberto sempre foi a nossa fonte de inspiração e foi o
responsável pela criação e por nos ensinar o estilo de atendimento único
e detalhado e de serviço especial que sempre vai ser a marca da nossa cultura",
definiu Paula Simonsen, a relações públicas do grupo, em sua página do
Facebook. "A sua forma de atender vai continuar sempre viva no Emiliano e
em todos nós."
0 comentar:
Postar um comentário
obrigado e comente sempre