O Congresso elegeu dois políticos citados na Operação Lava Jato para
comandar a Câmara (o deputado Rodrigo Maia, do DEM) e o Senado (o
senador Eunício Oliveira, do PMDB), escolhas que acrescentam ao cenário
político uma forte insegurança jurídica.
Maia e Oliveira
apareceram em delações premiadas feitas por executivos que tentam
negociar com o Ministério Público e a Justiça a redução de suas penas,
desde que revelem detalhes de como funcionavam esquemas de corrupção.
Ambos negam as acusações.
A Constituição brasileira prevê que, em
caso de ausência do presidente da República, assumem o cargo, nesta
ordem: o vice-presidente, o presidente da Câmara, o presidente do
Senado, e o presidente do Supremo Tribunal Federal. Como o Brasil não
tem hoje um vice-presidente, as figuras centrais da linha sucessória são
os presidentes da Câmara e do Senado.
Se Maia e Oliveira forem
denunciados formalmente pelo Ministério Público e se essa denúncia for
acatada judicialmente, ambos se transformam em réus. E réus podem estar
na linha sucessória da presidência da República? Esse é o tema quente
que está sob análise do Supremo e que demanda todas as atenções do
Congresso em tempos de Lava Jato.
Vai e vem no Supremo
A
análise do tema chegou ao Supremo em maio de 2016, por iniciativa do
partido Rede Sustentabilidade, criado por Marina Silva (que disputou a
Presidência da República em 2010 e 2014). A Rede protocolou no Supremo
uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF).
Na
época, o alvo do partido era o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), hoje preso na Lava Jato. A Rede pedia ao Supremo que
afastasse Cunha da presidência da Câmara e, consequentemente, da linha
sucessória, exatamente pelo fato de ele ser réu em ação que tramitava na
corte. O partido alegava ser inconstitucional ter na linha sucessória
um político que é réu em alguma ação.
Em novembro do ano passado, 6
dos 11 ministros do Supremo votaram a favor do pedido da Rede (Marco
Aurélio Mello, Luiz Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux e
Celso de Mello). O julgamento, porém, foi paralisado a pedido do
ministro Dias Tóffoli.
No dia 5 de dezembro, a Rede voltou a agir.
Desta vez o alvo era o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), então
presidente do Senado. Numa ação cautelar com pedido de liminar – que é
um pedido de análise urgente do caso –, o partido solicitava que o
Supremo se pronunciasse sobre a situação e Calheiros, que havia se
tornado réu. No mesmo dia, o ministro Marco Aurélio deferiu a liminar e
mandou Renan Calheiros se afastar da presidência do Senado.
Cármen Lúcia na linha
A
decisão foi considerada devastadora para os políticos, e o próprio
ministro Marco Aurélio achou melhor levar o caso para análise do
plenário da corte, diante de tamanha polêmica. No dia 8 de dezembro, os
ministros do STF tomaram uma decisão heterodoxa sobre Renan Calheiros:
por 6 votos a 3, decidiram que o senador, réu, poderia se manter na
presidência do Senado, mas não poderia mais fazer parte da linha
sucessória.
O mérito da arguição feita pela Rede em maio seria
votado agora, no início de 2017, pelo plenário do STF. Mas, novamente, o
Supremo preferiu adiar a polêmica.
A pedido do ministro Gilmar
Mendes, a votação foi suspensa agora em fevereiro. A expectativa no
Judiciário e no Congresso é esperar a publicidade das delações dos 77
executivos da Odebrecht, que ainda estão sob sigilo. Como citam dezenas
de políticos, a expectativa é que vários deles tornem-se réus em curto
espaço de tempo, o que obrigaria o Supremo a analisar com mais urgência a
questão sucessória.
Por enquanto, o Brasil segue sem um
vice-presidente e com os dois substitutos imediatos do presidente da
República na berlinda. Se tudo der errado para Rodrigo Maia e Eunício
Oliveira, caberá à ministra Cármen Lúcia, que preside o Supremo, assumir
o lugar de presidente em caso de ausência de Michel Temer.
Autor: Malu Delgado
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