"Está sendo muito difícil", suspirava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na noite desta quinta (2).
Com olhos vermelhos, e ainda chorando bastante, o petista recebeu
políticos, amigos e parlamentares em uma pequena sala no terceiro andar
do hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde sua mulher, Marisa
Letícia, está hospitalizada desde 24 de janeiro após sofrer um AVC
(acidente vascular cerebral).
Diante de duas cadeiras e uma mesa estreita com comida e água, Lula
cumprimentava aos poucos as pessoas que se acumulavam em uma das salas
do hospital.
Ele agradecia as condolências e explicava que estava fora de casa, em
atividade política, quando Marisa sofreu o AVC e que se tranquilizou ao
saber que ela chegou consciente ao hospital.
Era um bom sinal.
Passada uma semana, e após períodos de otimismo, o ex-presidente ainda
não sabia na última noite como seriam as próximas e últimas horas ao
lado de sua mulher. A ex-primeira-dama perdeu o fluxo cerebral pela manhã, quando os médicos concluíram que seu estado de saúde era irreversível.
Apesar de já ter autorizado o processo para a doação de órgãos da
mulher, Lula não viu a morte de Marisa ser confirmada até a madrugada
desta sexta (3).
Mesmo sem sedação, os batimentos cardíacos dela persistiam, cada vez
mais fracos. Mas já não havia fluxo de sangue no cérebro de Marisa. Era
questão de tempo.
Lula oscilava entre momentos de agitação, quando conversava bastante, e outros de silêncio e consternação.
Vestindo blusa e blazer pretos, o petista recebeu
visitas de adversários políticos, como o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) e o presidente Michel Temer (PMDB). Destacou justamente a possibilidade de, ao menos naquele momento, deixarem as disputas de lado.
Temer chegou ao hospital às 22h30 desta quinta, acompanhado por cerca de
15 aliados. Não saiu pelo elevador diante da sala onde estava Lula, mas
em um corredor, no terceiro andar, onde cerca de 60 pessoas, entre
parlamentares e amigos de Lula, já sabiam da chegada do peemedebista.
O presidente atravessou a sala rápida e nervosamente, assim como seus
ministros. Não falaram com ninguém no caminho. Temer e Lula ficaram
juntos por 18 minutos, quando o ex-presidente disse que agradecia a
visita "de coração".
Depois da partida do peemedebista, o teólogo Leonardo Boff organizou, na
sala de espera, uma roda de oração em homenagem a Marisa. Lula ficou em
outro espaço.
Boff pediu que Deus protegesse e recebesse bem a ex-primeira-dama e
disse que ela, ao lado de Lula, teve papel importante na luta pelos mais
pobres.
Já perto da meia-noite, Lula disse que precisava voltar a São Bernardo do Campo. Estava muito cansado. Queria organizar as coisas, tarefa que sempre foi de Marisa.
O ex-ministro Gilberto Carvalho pediu então para que todos os presentes
deixassem o hospital: "Nos vemos amanhã em São Bernardo".
Marisa Letícia será submetida a duas baterias de exames nesta sexta (3) para confirmar sua morte encefálica.
Segundo boletim do Hospital Sírio Libanês, as avaliações começaram à
12h05 e serão concluídas às 18h05. Com os resultados em mãos, os médicos
poderão prosseguir com os procedimentos de doação de órgãos.
O corpo da ex-primeira-dama será velado no sábado (4) no Sindicato dos
Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP). A cremação está prevista
para a tarde.
COLABOROU CÁTIA SEABRA
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