O ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e outros executivos do
grupo disseram em acordo de delação premiada que acertaram junto com a
Andrade Gutierrez o repasse de R$ 50 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) após vencerem o leilão para a construção da hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, em dezembro de 2007.
Executivos que complementaram o depoimento de Marcelo afirmaram que a
Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 30 milhões, enquanto a Andrade
Gutierrez se encarregou dos R$ 20 milhões restantes.
Os delatores não esclareceram se os valores alegados foram efetivamente pagos, segundo a Folha apurou.
Também não falaram em propina para descrever o acerto com Aécio.
Os depoimentos, ainda sob sigilo, embasaram pedidos de inquérito feitos na semana passada pela Procuradoria-Geral da República contra diversas autoridades.
No caso de Aécio, por ele ter foro privilegiado, a solicitação foi feita
ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson
Fachin, que ainda não deu essa autorização.
Caso o inquérito seja autorizado, começa a fase de colheita de provas.
Havendo indícios, a PGR oferece uma denúncia, que, se aceita pela
Justiça, torna o investigado réu, dando início a um processo que
culminará em julgamento.
O tucano afirma que "é absolutamente falsa a pretensa acusação".
À época do leilão da usina Santo Antônio, no rio Madeira, em 2007,
Aécio, embora fosse um dos principais nomes de oposição ao governo de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que licitou a usina em Rondônia, estava
no seu segundo mandato como governador de Minas Gerais e tinha sob seu
comando uma das empresas que integravam o consórcio que ganhou a
disputa, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). A empresa de
energia é controlada pelo governo mineiro até hoje.
Embora fora do governo federal, o tucano também mantinha influência sobre o principal investidor da usina, a empresa Furnas.
Essa relação é apontada por políticos como o ex-deputado Roberto
Jefferson e o ex-senador Delcídio do Amaral, além de um lobista do PT
que foi preso pela Lava Jato, Fernando Moura.
A informação de que a usina de Santo Antônio surgiria na delação da Odebrecht ligada a Aécio foi antecipada pela colunista da Folha Mônica Bergamo na quinta (16).
Furnas é a principal acionista da Santo Antônio Energia, com 39% do capital.
Odebrecht e Andrade Gutierrez detêm, respectivamente, 18,6% e 12,4% das ações.
Um fundo da Caixa Econômica Federal controla 20%, enquanto a Cemig tem 10%. A construção da hidrelétrica custou R$ 20 bilhões.
Marcelo e outros executivos da Odebrecht afirmaram aos procuradores da
Operação Lava Jato que as empresas decidiram fazer o acerto com o tucano
porque queriam ter uma boa relação com as duas sócias da usina sobre as
quais Aécio tinha influência –ou seja, Furnas e Cemig.
Se houvesse problemas com essas empresas durante a construção da hidrelétrica, o tucano poderia ajudar a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, segundo o que disseram os delatores.
Ainda pesou o fato de que a Odebrecht via no tucano um político em ascensão.
Marcelo afirma que representantes de Aécio diziam que os pedidos eram descritos como contribuições para o PSDB.
Os delatores não usam o termo propina no relato que fazem. Na
interpretação de procuradores da Lava Jato, o acerto foi selado com
expectativa de contrapartida.
Após deixar o governo de Minas Gerais em 2010, Aécio elegeu-se senador
pelo Estado e foi candidato à Presidência da República em 2014, quando
perdeu para a petista Dilma Rousseff por uma diferença de 3,5 milhões de
votos (cerca de 3,3 pontos percentuais).
Atualmente, ele preside nacionalmente o PSDB e é um dos potenciais candidatos do partido à eleição presidencial de 2018.
OUTROS DELATORES
O ex-presidente da Odebrecht é o terceiro dos colaboradores da Operação Lava Jato a associar o nome de Aécio a Furnas.
Antes dele, o doleiro Alberto Youssef e Delcídio disseram ter ouvido
comentários de terceiros sobre a suposta relação entre o hoje senador
tucano e a estatal federal de energia durante o governo federal petista.
O tucano nega que tivesse qualquer tipo de influência sobre Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas, apontado como seu aliado na estatal.
O tucano nega que tivesse qualquer tipo de influência sobre Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas, apontado como seu aliado na estatal.
O relato do acerto financeiro para beneficiar Aécio no caso de Santo
Antônio é um dos temas que serão abordados na complementação que a
Andrade Gutierrez terá de fazer de sua delação, em razão das novas
acusações feitas pela Odebrecht em sua delação premiada.
Procuradores avisaram representantes da empreiteira de que todos os detalhes sobre a usina terão de ser esclarecidos.
ACUSAÇÃO É FALSA, DIZ AÉCIO
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse em nota enviada à Folha que "é absolutamente falsa a pretensa acusação" de acerto com as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez.
Na nota, o tucano afirma que "não é apontado nenhum ato ilícito que teria sido cometido pelo então governador".
Prossegue a nota: "A licitação da obra da usina de Santo Antônio foi
realizada pelo governo federal, sem qualquer influência do governo de
Minas".
O senador afirma também que "dentre tantas mentiras que têm sido ditas talvez essa seja a mais fácil de comprovar".
O tucano diz que, se a suposta influência sobre Furnas seria
consequência da presença do ex-diretor Dimas Toledo nos quadros da
empresa, há um problema de lógica temporal: o diretor mineiro deixou a
empresa em 2005, e o leilão de usina Santo Antônio ocorreu em dezembro
de 2007.
"Não é possível que acusações irresponsáveis como essa sejam feitas,
aceitas e divulgadas sem um mínimo de comprovação. São vazamentos
criminosos que precisam ser esclarecidos", afirma o senador tucano.
Os advogados Marco Moura e Rogério Marcolini, que defendem Dimas Toledo,
dizem que ele jamais manteve contatos com o consórcio que fez a usina
Santo Antônio. Eles afirmam que o leilão para construir a hidrelétrica
ocorreu em 2007, quando ele já tinha deixado a diretoria de Furnas.
Os advogados de Dimas negam que ele tenha sido indicado para o cargo na empresa por Aécio.
"[O ex-diretor Dimas Toledo] esclarece que jamais manteve relação próxima com o senador Aécio Neves.
Sua nomeação para a diretoria de Furnas, onde trabalhou por cerca de 37
anos, de 1968 a 2005, se deu por natural progressão na carreira,
atendendo a critérios exclusivamente técnicos, e não por indicação
política".
ODEBRECHT NÃO SE MANIFESTA
A Odebrecht afirmou, também por meio de nota enviada à reportagem, que
"não se manifesta sobre o teor de eventuais colaborações de pessoas
físicas".
A nota do conglomerado diz que "a empresa reafirma seu compromisso de colaborar com as autoridades.
A Odebrecht declara ainda que está implantando as melhores práticas de
'compliance', baseadas na ética, transparência e integridade".
A Andrade Gutierrez não quis comentar os relatos dos delatores, "mas
reitera seu compromisso de continuar colaborando com os órgãos
competentes nas investigações para esclarecer assuntos do passado".
Furnas afirma que "adota as melhores práticas de governança ética, profissional e transparente".
Em nota, a estatal de energia elétrica diz: "A companhia sempre esteve à
disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários às
autoridades e é a principal interessada na elucidação dos fatos
relatados".
Já a Cemig declarou em nota que "prefere aguardar a evolução das
investigações no âmbito da Operação Lava Jato antes de emitir qualquer
comentário a respeito" das delações de executivos da Odebrecht.
Fonte: Folha de SP
0 comentar:
Postar um comentário
obrigado e comente sempre